quinta-feira, 25 de abril de 2013

ANJO DA GUARDA


Reconhecemos que os anjos são seres elevados, independentes. Existem, porém, anjos que não guardaram o seu principado, antes abandonaram o seu próprio domicí­lio e, por isso, o "Senhor os tem reservado em trevas, com cadeias eternas para o juí­zo do grande dia", Jd v.6.
Encontramos, também, outros lugares na Bíblia, em que se fala desse assunto.
Existem anjos que são maus e procuram prejudicar os homens; há, igualmente, hostes de anjos bons, criados por Deus e postos para o servir. Eles voluntariamente, servem a Deus e estão sempre juntos do seu trono, para fazerem a sua vontade.
Salientamos, que não nos é permitido adorar anjos. Está escrito, a respeito de João. que um dia se prostrou diante do anjo que lhe concedera a revelação maravi­lhosa. O anjo, porém, lhe disse: "Vê, não faças tal? Sou servo contigo e com os teus irmãos... adora a Deus". Os colossenses er­raram grandemente nesse assunto, pois prestaram culto aos anjos. Não podemos assim proceder. Todavia, não rejeitamos a verdade bíblica sobre as hostes do anjos com as quais os primeiros cristãos tiveram relação íntima.
De fato, Deus tem miríades de anjos, que incumbiu de trabalhos diversos, que têm a cumprir em relação a nós, os ho­mens. Portanto, não é extraordinário que Deus possa controlar tudo e cuidar dos nossos interesses, até do menor detalhe de nossa vida.
O mundo de Deus é como uma grande empresa. Existe um chefe, que entrega os detalhes para os muitos que são seus auxiliares. Deus tem de cuidar de um mundo imenso de anjos, que executam a sua von­tade. Na administração mundial de Deus, os seres celestiais ocupam um grande e im­portante lugar.
Sobre a questão, Jesus fala do grande perigo de seduzir alguns dos pequeninos, porque, diz Ele: "Os seus anjos, nos céus, vêem sempre a face de meu Pai celestial". O que queria salientar era: "Guarda-te para não te fazeres algum mal, pois os an­jos de Deus sempre se mantêm em íntima relação com o meu Pai, no Céu, e Ele te fará ajustar contas". Os anjos têm comunica­ção com o Céu, dando informações a Deus sobre o alguém que lhe foi entregue para seguir, guiar e auxiliar.


O ministério dos anjos
A Palavra de Deus diz especialmente que os anjos foram "enviados para exercer o ministério a favor dos que hão de herdar a salvação". Notamos que, quando se fala da salvação do homem, geralmente os an­jos estão incluídos.
Podemos ainda observar, pela Bíblia, a presença de anjos em relação à manifesta­ção de Jesus na Terra! Eles anunciaram o seu nascimento; estiveram presentes quando Ele nasceu; entregaram a mensa­gem aos pastores, e uma multidão do seu exército louvou a Deus nos campos de Be­lém. Os anjos revelaram-se no tempo da meninice de Jesus e instruíram seus pais como deviam fazer para escapar dos seus inimigos. Nas ocasiões importantes da vida de Jesus, como na tentação no deser­to, durante a luta no Getsêmane, na res­surreição e na ascensão, Ele foi servido pe­los anjos. E o próprio Jesus, falando a Natanael, disse que assim aconteceria: "Vereis o céu aberto e anjos de Deus, subindo e descendo sobre o Filho de Deus". No mi­nistério terreno de Jesus, estava o Céu aberto e os anjos em atividade; por ocasião do seu aparecimento e durante a sua vida.
Quando os discípulos estavam encarce­rados, vieram os anjos e os libertaram. Paulo, certa ocasião, sofreu um naufrágio, e um anjo, que estava ao seu lado, à noite, disse que Deus salvaria tanto a sua vida como a dos seus companheiros.
O trabalho dos anjos visa, de fato, aju­dar, proteger e guardar aqueles que têm suas vidas nas mãos de Deus.
Tratando-se da salvação, vemos que os anjos, vez após outra, aparecem. Quando o Evangelho foi pregado pela primeira vez aos gentios, os anjos lá estavam. Veio um anjo à casa de Cornélio e disse-lhe a quem deveria chamar e onde, a fim de ouvir o Evangelho vivo. No tempo em que Filipe estava em Samaria, veio um anjo a ele e disse: "Levanta-te a vai em direção sul, ao caminho que desce de Jerusalém a Gaza; este se acha deserto". Filipe creu e deixou-se guiar pela mensagem do arauto celeste, e, assim, tornou-se instrumento para a sal­vação do tesoureiro da corte etíope. Ao fin­dar a sua luta pela fé, Lázaro, segundo as palavras de Jesus, foi conduzido pelos an­jos ao seio de Abraão. Ao ser redimida a alma do corpo, pertence aos anjos a tarefa da sua condução até o Céu.
Jesus diz, no capítulo 15 de Lucas, que haverá alegria entre os anjos de Deus por um pecador que se converter. Eles são os fiéis da Casa do Senhor, e acompanham os filhos de Deus com muito interesse.
Nossos primeiros passos, no caminho da salvação, são observados pelos anjos, pois foram incumbidos de seguir-nos até chegarmos ao fim. O dever das hostes angelicais, em relação aos salvos, é o de pro­teger, guardar, acompanhar e conduzi-los, por fim, ao Céu.

A PARÁBOLA DAS DEZ VIRGENS


As dez virgens da parábola proposta por Jesus em Mateus 25.1-13, representam duas fases da nossa vida espiritual. A fase da vigilância, da preparação, da esperança e até mesmo da ansiedade pelas coisas es­pirituais, e a fase da dormência, do despreparo, do descaso e até do abandono, que caracterizam um estado espiritual deca­dente. Dessas fases podem decorrer o al­cance da glória de Deus ou a rejeição final: Ap 20.15. Com este mesmo ensino há ou­tras parábolas que devem ser observada. Necessário se faz notar que havia nas dez uma "semelhança" com o reino de Deus. As prudentes se assemelhavam mais do que as néscias. Todavia as prudentes al­cançaram o prêmio da sua dedicação e pre­paração, entrando para as bodas.
As outras foram rejeitadas. Embora fossem assim todas virgens, todas damas de honra, as néscias não valorizaram o convite a ponto de prever uma "demora" do noivo e a necessidade de levar bastante azeite para as lâmpadas, isto é, de manter a perseverança e a fidelidade doutrinária (2 Pe 3.4)', igrejas há que continuam pre­gando o Evangelho, promovendo estudos bíblicos, realizando congressos de mocidade, mas estão inteiramente afastadas das doutrinas básicas que demonstram a real transformação que o crente recebe ao acei­tar a Cristo. Já não praticam as "primeiras obras", Ap 2.3-5. As lâmpadas estão "ace­sas", mas as vasilhas estão vazias.
Muitos perguntam se haverá arrepen­dimento depois do arrebatamento da Igre­ja. Acreditamos que sim, mas mesmo que haja, ele será tardio com relação à participação das bodas, pois, a nosso ver, a porta estará fechada: 1 Co 15.51-54; 1 Ts 4.15-17. Alguns comentadores acham que era cos­tume ter-se moças durante um casamento que seguravam lâmpadas e cuidavam para que estivessem sempre acesas, provindo daí o maior brilho da festa. A maior alegria da igreja deve provir também do seu maior brilho espiritual.
Sobre o noivo tardar, acreditamos que a longanimidade de Deus espera que cada um se prepare em tempo e não na última hora. Ouviu-se um grito: é a trombeta de Deus que soará ajuntando o povo, seguida do alarido que caracterizará a alegria das bodas: 1 Co 15.52; 1 Ts 4.16. Lembremo-nos de que esse grito - essa trombeta - não é para preparação, mas para sair ao encon­tro do noivo, num abrir e fechar de olhos. Tentar "comprar azeite" depois disso será pura perda de tempo. Voltando à questão da semelhança com o reino, queremos lembrar que há igrejas muito "semelhan­tes" com a Igreja de Deus. Fazem tudo muito parecido, e quem olha de fora não percebe a disparidade entre ambos, não vê a diferença entre a verdadeira igreja e as apenas semelhantes. Isto tem levado mui­tas pessoas a perder tempo em igrejas que não produzem o novo nascimento de seus seguidores. Não os ensina a deixar o peca­do, a vaidade, os maus costumes. Durante anos a fio, essas pessoas continuam enga­nadas, pensando que o "azeite" é suficien­te e a sua decepção será horrível, quando constatarem o engano. A cena será indes­critível.
Após o sumiço dos que foram com o noivo, pelo arrebatamento, muitos procurarão examinar as Escrituras na tentativa de encontrar apoio para novamente fazerem parte do reino de Deus e poderão até provocar a própria morte pela pregação os­tensiva do Evangelho. A agonia será tre­menda, por constatarem que a oportunida­de passou. A lição final é que devemos es­tar, não somente preparados mas aviva­dos, esperançados, cheios do Espírito San­to, aguardando a vinda do Senhor.

O SELO DA PROMESSA


Uma das muitas obras do Espírito San­to é a de selar. Este serviço Ele o faz no momento em que a pessoa aceita Cristo como Salvador: "E tendo nele crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa, o qual é o penhor da nossa herança", Ef 1.13,14. É oportuno dizer algo sobre o selo do Espírito Santo nesta dispensação. Mui­tos confundem selo com batismo, dizendo serem ambos uma mesma coisa. Não. O selo do Espírito é a garantia de que somos, a partir da nossa conversão, propriedade exclusiva do Senhor nosso Deus; e, como afirma Norman Harrison em Efésio, o Evangelho das Regiões Celestes, comen­tando Efésios 1.13 e 14: "Quando cremos, o Espírito procura assegurar o seu direito em nós. Este é o seu trabalho selador. A pala­vra selar tem três significados:
1. Uma transação terminada. É imutá­vel o selo de autoridade, é como quando o tabelião sela um feito ou qualquer docu­mento com selo governamental.
2.  Marca da posse. É como quando o gado ou as ovelhas na fazenda são marcadas, estabelecendo-se o direito de proprie­dade.
3.  Garantia de entrega segura. É como quando um pacote ou um carro é selado pela companhia transportadora. Isso proí­be qualquer embaraço que impeça o objeto de chegar ao seu destino. Em cada um e em todos esses sentidos, são os salvos do Se­nhor Jesus selados com o selo do Espírito. Quando Paulo fala do selo referindo-se à pessoa que crer no Senhor, ele evoca os costumes daquelas terras de os negociantes de madeira marcarem com o seu nome (se­lo) as toras; e quando os servos iam buscá-las não tinham dificuldade no reconheci­mento, por estar nelas gravado o selo do seu proprietário. O gado marcado com a marca do nome de seu senhor não podia de modo nenhum misturar-se com outro ga­do. Também o Espírito de Deus sela os crentes para não se misturarem com os mundanos: 2 Tm 2.19. Sendo ele o penhor da nossa herança, no dia da redenção sere­mos conhecidos pela marca que nos carac­teriza: 2 Co 1.22; 5.5. Precisamos da assis­tência do Paracleto celeste até o dia da nossa completa redenção. Nesse dia, o nos­so corpo será libertado de todos os males que ainda o afligem: Rm 8.23.

ÁGUIAS OU ABUTRES?


"Como se explica a expressão 'onde es­tiver o cadáver, aí se ajuntarão os abutres', de Mateus 24.28?"
Acreditamos que o texto em epígrafe •   está correlacionado com os últimos aconte­cimentos escatológicos. Trata-se, aqui, de fatos que sobrevirão, no tempo do fim, a Israel e aos gentios. Mas é preciso salientar, a título de estudo, que este versículo, embora muito breve, tem sido motivo de inú­meras interpretações, algumas das quais inteiramente equívocas. Observemos as opiniões de algumas das correntes sobre o texto:
1.  Cristo seria o alimento (a carcaça), e os crentes seriam os abutres. Assim pensa­ram Teofilacto, Calvino, Colávio, e Jerônimo, que encontraram na palavra "cadáver" até mesmo uma referência à morte de Cristo. Crisóstomo também defendia essa interpretação, chamando os participantes da assembléia de santos de águias. Alguns intérpretes modernos, como Wordsworth, têm-se lançado na defesa dessa interpreta­ção. Porém a simples leitura do contexto basta para mostrar a qualquer um que no versículo não há intenção de transmitir tal idéia, porquanto o tema do texto é julga­mento.
2. Tão inocente quanto essa é a inter­pretação que diz que o cadáver significa aqueles que morrerem para si mesmos (a crucificação espiritual) e que as águias são os dons do Espírito Santo. Isso está com­pletamente fora do sentido do texto.
3. Jerusalém e os judeus seriam os ca­dáveres que teriam atraído as águias roma­nas (assim pensam Lightfood, Wolf, e De Wette).
4.  O cadáver representaria os indiví­duos espiritualmente mortos, e as águias seriam os anjos vingadores enviados por Cristo, visto que, a expressão "cadáver" se deriva do verbo grego que significa "cair", e fala de um "corpo caído". O vocábulo português "cadáver", vem do vocábulo la­tino "cado" cair.
5.  Que o versículo em apreço está liga­do à batalha do Armagedom, por ocasião da revelação de Jesus em glória: Ap 19.11,12.
A par de todas essas correntes que fo­ram analisadas, existem, ainda, algumas considerações a ser ponderadas sobre o texto em pauta, com vistas a um maior esclarecimento.
No que tange à expressão "abutre" no versículo em apreço, algumas traduções dizem águias - expressão grega "aethos" que significa águia. Na realidade, nesse caso as "águias" são abutres, que os anti­gos aceitavam como uma raça de águias: Jó 39.30; Os 8.1. Trata-se do abutre que ul­trapassava a águia em tamanho e poder.
A águia representa símbolos diversos: de nação, de força, de poderio, etc. Segun­do alguns, o seu masculino (aguilão) quer dizer vento do norte. Esse mesmo vocábulo quer dizer trapaceiro, tratante, covarde. Esta ave é considerada pelos zoologistas como a rainha das aves, em razão de sua força e destreza, pelo seu domínio nas mai­ores alturas. Somente se lhe iguala o condor dos Andes. A águia pode ver a presa até 3 km de distância, como atestam os cientistas. A Bíblia se refere a esta ave (Dt 28.49,50; Jó 39.30), dando-lhe uma consi­deração especial, como é o caso do versí­culo em apreço. A águia tem todas as ca­racterísticas das aves que podem levantar vôo sem bater asas. É símbolo de auto-suficiência.
Alguns estudiosos crêem que o versícu­lo pode referir-se a uma poderosa nação (Dt 28.49,50) que virá contra o povo de Jacó: "O Senhor levantará contra ti [Israel], uma nação de longe, da extremidade da terra, que voa como a águia, nação cuja língua não entenderás, nação feroz de ros­to, nem se apiedará do moço". Já em Ezequiel 38, se nos diz que ela (uma poderosa nação) virá com os seus aliados, "e muitos povos virão contigo", v.6.
Outros teólogos concluem que o versí­culo em pauta tem duas interpretações: a literal e a simbólica. Diz literalmente, crendo na mortalidade que haverá nas ter­ras da Palestina, segundo Ezequiel 38. Diz simbolicamente, referindo-se às nações que virão para invadir a Palestina, com o fim de varrê-la da face da terra.
Outra forte corrente diz que na antigüi­dade os países e impérios consideravam-se fortes e usavam esta ave como insígnia; hoje muitos países ainda a usam como símbolo e sinal de poderio. Os Impérios Romano, Russo, Austríaco, e da França, adotaram a águia como símbolo heráldico. Damos a seguir alguns exemplos:
1. Napoleão Bonaparte, que usou o símbolo da águia, disse ao referir-se a Is­rael: "quem ficar com essa terra governará o mundo".
2. Império Romano Redivivo, que tam­bém adotou a águia como símbolo, marchará contra Israel, a fim de destruí-lo.
3.  A U.R.S.S., que tem como insígnia esta ave, virá do Norte com o objetivo de tomar os despojos e de arrebatar a presa (Ez 30.1-12) -sabe-se que de longe a águia avista sua presa - Assim a única terra a ser contemplada é a Palestina, não só pela poderosíssima nação, mas também pelos outros povos que estão ligados a ela: "Seus filhos, chupam o sangue e onde há mortos, aí ela está", Jó 39.30; Ez 38.6.
De todas essas correntes e declarações estudadas, o mais provável e o que mais se coaduna com o contexto bíblico, é que este texto se refere a um provérbio secular, usa­do por Jesus, dando-lhe uma nova aplica­ção. Esse provérbio significa algo como "onde houver motivos para julgamento, aí haverá julgamento". A declaração, portan­to, seria uma afirmação geral, acerca da inevitabilidade do julgamento que se tor­nava necessário e imperioso. No caso da volta de Cristo, Ele (Jesus) atacará os poderes do mal neste mundo, tanto indivi­duais como das nações. Ele destruirá o Anticristo com o resplendor de sua vinda. É uma lei geral que o julgamento cai onde deve, tal como os abutres se reúnem onde jazem os cadáveres.

O QUE É A ALMA?


A alma é distinta entre o corpo e o espí­rito, sendo imortal e imaterial. O vocábulo "nephesh" (Heb) é traduzido alma mais de 500 vezes no Antigo Testamento e "psy-chê" (Gr) mais de 30 vezes no Novo Testa­mento. Assim, a palavra alma aparece com vários sentidos nas Santas Escrituras tan­to figurativo como por Sinédoque. É nesse particular que se precisa muito cuidado, pois muitas falsas interpretações resultam daí, originando destarte falsos ensinos. É imperioso conhecer o sentido estrito e teo­lógico da palavra "alma", bem como os fi­gurados do mesmo vocábulo, como aparece no texto bíblico. Os animais também têm alma, mas muito inferior à do homem: Gn 1.20,21,24,28; SI 8.5-8; Mt 6.26; 1 Co 15.39-41. Note-se que a mesma palavra original "nephesh" é usada em Gênesis capítulo primeiro, concernente ao homem e aos ani­mais. A alma dos animais além das muitas inferioridades, acaba com a morte do bru­to, já a alma do homem é eterna. Além dis­so, Deus, ao criar os animais disse: "faça-se", mas quanto aos homens, disse: "faça­mos o homem segundo a nossa imagem e semelhança".
O nosso corpo é a "bainha" da alma; ela explora o ambiente ao nosso redor e recebe as impressões do mundo exterior por meio dos sentidos corporais: vista, ouvido, olfato. etc. A alma é a sede das emoções, paixões, desejos e sentimentos. A alma, por meio do espírito, põe-nos em contato com Deus e por meio do corpo põe-nos em contato com o mundo.
A alma é o ser social do homem. Por meio dela ele tem consciência de si mesmo. Sabe que é uma personalidade. Resta-nos saber que este vocábulo tem seis sentidos diferentes nas Escrituras, sendo um real e cinco figurados. São eles:
1.  0 sentido real. Isto é, "alma" signifi­cando alma mesmo.
2.  A alma significando o sangue: Lv 17.14; Dt 12.23. Isto apenas ressalta o valor do sangue, sem o qual o homem não pode viver. Quando se faz transfusão de sangue, não se diz que estão fazendo transfusão de alma, nem injetando alma.
3.  "Alma" significando o corpo, a pes­soa física: Gn 12.5; 46.27; Êx 1.5; 12.4; Lv 21.11; Nm 6.6; Rm 13.1.      •
4.  "Alma" significando animal: Gn 1.20. Aí, no original a palavra empregada é "nephesh". Se o sentido não fosse figura­do, entenderíamos por exemplo: "produ­zam as águas pessoa vivente", o que seria um contra-senso.
5.  "Alma" significando vida: Lv 22.3. Trata-se de sinédoque, figura de linguagem literária, em que a parte é tomada pelo todo. Alma é também chamada vida, porque é ela a parte mais importante do ser. Ela transmite vida ao corpo mediante o espírito.
6. "Alma" significando coração: Dt 2.30. Ora, sabemos que o coração é um órgão como os demais, de carne, que bom­beia o sangue através do corpo. Tudo o que se atribui ao coração o é figuradamente. A referência mesmo é a alma: 1 Rs 8.17; SI 14.1; Mt 9.14; 1 Co 7.37.

RECONHECEREMOS NOSSOS IRMÃOS NO CÉU?


"Quando o crente chegar ao Céu irá re­conhecer parentes e irmãos em Cristo?"
Naturalmente que sim. Dentre muitos outros textos que afirmam esta verdade, citaremos: "Digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugar à mesa, com Abraão, Isaque e Jacó no reino, dos céus" (Mt 8.11); "E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com Ele" (Mt 17.3); "E quanto à ressurreição dos mortos, não tendes lido o que Deus vos de­clarou: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó; Ele não é Deus de mortos, e, sim, de vivos", Mt 22.31-33. "No Hades ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão e Lázaro no seu seio", Lc 16.23. Abraão, Isaque e Ja­có estarão em pessoa no reino dos céus e serão por nós reconhecidos. Moisés e Elias foram reconhecidos no monte da transfigu­ração pelos apóstolos. Deus não é Deus de mortos, mas de vivos, o que indica que es­taremos no Céu em nossos corpos glorificados. Ressurreição significa reviver o mes­mo corpo, embora glorificado. O rico reco­nheceu Abraão e Lázaro. Se não nos reco­nhecêssemos no Céu, isto seria para nós contraproducente, pois o que almejamos é vermo-nos na Glória. Se no Céu houvesse inconsciência do passado, parece-nos que pouco adiantaria estar ali. O grandioso, o sublime é estarmos ali conhecendo o plano de Deus e vendo o cumprimento dele. Lá, sem dúvida, haveremos de conhecer em pessoa todos os heróis da fé que hoje co­nhecemos pela Bíblia. Lá veremos os nos­sos irmãos junto aos quais lutamos neste mundo a boa peleja da fé.

CRIANÇAS CONDENADAS?



"As crianças de pais não-crentes serão salvas?"
Ao analisarmos este complexo assunto, devemos, de pronto, entender o seguinte:
• A criança não tem condições de arre­pendimento.
• A criança não pode ser batizada.
• A criança está livre de qualquer res­ponsabilidade.
Alguns alegam, contrariando o ponto de vista bíblico, dizer a Escritura que "to­dos pecaram e destituídos estão da glória de Deus", Rm 3.23. Se afirmamos que essa condenação abrange também as crianças dos descrentes, pois que estão incluídas em "todos", estaremos condenando as crian­ças dos próprios crentes, de vez que, forço­samente, estarão elas igualmente incluídas nesse coletivo.
Se admitirmos que as crianças filhos de não-crentes estão condenadas, então te­mos de considerar que agem acertadamente as igrejas que batizam crianças, visando a prepará-las para a eternidade. O "cate-cismo da Doutrina Cristã da Igreja Roma­na ", diz: "os pais e as mães que, por negli­gência, deixam seus filhos sem o batismo, pecam gravemente, porque privam essas criancinhas da felicidade eterna". Mas nós não cremos que o batismo de crianças seja bíblico, nem que o batismo em si seja um meio de graça. (Sobre o assunto, leia o li­vro da CPAD - As Crianças e seu Destino Eterno.)
Sob expiação A expiação estende-se a todos os ho­mens e opera sobre todos os homens que aceitam o sacrifício de Cristo os que não têm qualquer condição de aceitá-la, estão nela incluídos. Seu paralelismo com os efeitos do pecado de Adão é visto no fato de que as crianças e outras pessoas irrespon­sáveis, incapazes de rejeitá-la são salvas, sem o próprio consentimento. Se nasceram debaixo da maldição, semelhantemente, nasceram sob a expiação, que é designada para remover a maldição. Ás crianças per­manecem ao abrigo da expiação até atingi­rem a idade suficiente para repudiá-la ou aceitá-la.
A expiação estende-se a todos os ho­mens e opera sobre todos os homens que crêem.
Se as criancinhas nascerem debaixo da maldição, semelhantemente, nasceram sob a expiação que é designada para remo­ver a maldição, e isso tem valor até que elas possam aceitar ou rejeitar a salvação.
Só por uma predestinação autocrata e injusta poderiam as crianças ser condena­das pelo simples fato de nascerem de pais descrentes.
É incorreto dizer que o reino dos céus é somente para as crianças que vem a Jesus, pois como podemos admitir que crianças inocentes e irresponsáveis possam vir a Je­sus?
Alguém poderia indagar porque está es­crito em Apocalipse 20.12 de "pequenos e grandes" diante do trono de juízo. Como pode ser isso?
A palavra que aparece nesse texto como "pequenos" não se trata da expressão grega "Teknos" ou "Phaidion", que significa criança ou menino. Mas "Mikros", que quer dizer pequeno no sentido de posição, isto é, serão julgados tanto os grandes (os reis ou príncipes, etc.) como os pequenos (os pobres). Além do mais, é bom lembrar que está escrito que cada um foi julgado segundo as suas obras. Onde estão as obras de uma criança? Podem elas ser justifica­das por suas obras? Ap 20.13. Afirmamos que a criança, embora pecadora por ori­gem, não tem cometido pecado, pela ino­cência.
Surgirá, então, outra pergunta: Como Paulo falou dos "filhos imundos" e dos "filhos santos"?
O que realmente o apóstolo asseverou sobre este assunto nada tem a ver com a salvação ou com o castigo eterno da crian­ça, mas simplesmente com a limpeza ceri­monial dos cônjuges, em concordarem em vi­ver sob disciplina evangélica, fora das con­taminações de prostituições idolátricas. Assim, ao nascerem, os filhos seriam lim­pos ou santos ( no original é "ÁGIOS"), se­parados de atos profanos, puros socialmen­te, castos, etc. Um crente casado com des­crente vivendo evangelicamente, seus fi­lhos seriam isentos da impureza venérica das prostituições religiosas, muito comuns naqueles dias: 1 Co 6.18,19. Também foi neste sentido que Paulo ensinou que os cônjuges incrédulos seriam santificados pelos crentes, isto é, vivendo a pureza evangélica, embora não sejam salvos: 1 Co 7.13.
Logo, as crianças, ao morrerem sem os pais se converterem, estão debaixo da obra do Grande Fiador e Advogado - Cristo, nosso Senhor: Hb 7.22; 1 Jo 2.2. E as que vivem sob um lar ímpio, estão sob a prote­ção da obra redentora até o tempo de sabe­rem escolher entre o bem e o mal e terem a faculdade exercitada pela razão para crerem e serem salvas pela graça de Deus: Tt 2.11.
Diante disso, fica bem claro que o peca­do original das crianças em idade de não compreensão, não é levado em considera­ção por Deus, pois elas estão incluídas na redenção, e esse pecado original delas é, pelo eterno plano divino, lavado pelo pre­cioso sangue de Cristo.
Finalmente, devemos fazer, ainda, al­gumas ponderações:
1.  Os maridos ou as esposas descrentes não serão salvos só por ser o seu cônjuge crente.
2.   Os filhos (na idade da razão) dos crentes não serão salvos por causa da condição de santificação de seus pais.
3.  Nas crianças, o pecado congênito é eliminado, é apagado, através da obra expiatória de Cristo.
4.   Uma criança não tem capacidade para crer.
5.  Uma criança não pode ser convenci­da do pecado, porque não praticou pecado algum, ela é, diante de Deus, irresponsá­vel.
6.  As criancinhas não podem ser julga­das, porque jamais se aperceberam de quaisquer leis. A única lei (se assim pode ser chamada) que predomina sobre elas é a da inocência. Elas ignoram tudo e Deus não leva em consideração o tempo da ino­cência: At 17.30.
Acerca das crianças do Dilúvio, não pe­receram por serem pecadoras, mas por uma circunstância eventual. O mesmo aconteceu com as crianças em Nobe (1 Sm 22.11), que foram mortas "desde os meni­nos até os de mama", e com as de Belém (Mt 2.16), onde Herodes mandou matar todos os meninos que ali havia e em todos os contornos, de dois anos para baixo.
Também nas cidades de Sodoma e Gomorra, as crianças foram destruídas pelo juízo dos pecadores; entretanto, devemos notar que esses juízos foram materiais e temporais e não constituíam o castigo eter­no. Pois, segundo as nossas leis e as leis divinas, as crianças não podem sofrer pena de condenação.

ADORAÇÃO A MARIA



"Estou certo de que as Assembléias de Deus não veneram Maria, mas gostaria de saber qual a posição dessa denominação, em relação aos que agem de tal maneira, extrapolando os mandamentos de Cristo."
Maria, o mesmo que Miriam ou "ama­da", deve ser respeitada e, por ser a mãe do Senhor Jesus, não podemos dizer dela me­nos que Isabel: "Bendita és tu entre as mulheres... E de onde me provém que me ve­nha visitar a mãe do meu Senhor?" Em seu "Magnificat", Maria demonstra a sua humildade e, aí, vemos o porquê da sua es­colha por Deus. De fato, ela é venturosa entre as mulheres, por ser a escolhida para mãe do Salvador. Mas, de modo nenhum, devemos fazê-la motivo de adoração. É pe­cado adorar, não somente a Maria, mas a qualquer outro nome que não seja o do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. Ela mesma, em seu cântico (Lucas 1.47), afirma: "E o meu espírito se alegra em Deus, meu Sal­vador". Este versículo bíblico é uma con­firmação de que ela necessitava também da salvação. Ora, como alguém que carece de salvação pode salvar outros? Além do mais, só os cegos espirituais, não vêem a grande diferença entre o Senhor Jesus e Maria. E quem a ela rende culto prova a sua total ignorância das Sagradas Escritu­ras.
A história tem mostrado quantas aber­rações têm sido cometidas, quanto a esses fatos. A adoração a Maria e a inúmeros ou­tros santos, como é sabido de todos, foi uma coisa forjada pelo romanismo. Sem ir muito longe, é digno de registro o fato, e até dispensa comentários, de que o papa Paulo VI ofereceu uma rosa de ouro ao Brasil, e ao benzê-la na Capela Sistina em 5 de março de 1967, perante uma represen­tação brasileira, expressou: "No Santuário de Nossa Senhora Aparecida, ela (a rosa) dará testemunho de nossa constante ora­ção à Virgem santíssima para que interce­da junto de seu Filho... Vamos a Maria para chegar a Jesus. Amando desse modo Nossa Senhora... chegaremos a Cristo, o Filho de Deus". Qualquer novo convertido ao Evangelho sabe que em nenhum outro nome há salvação, a não ser no nome de Jesus.
Quanto à salvação, o próprio Jesus dis­se: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim", Jo 14.6; "... tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vô-lo concederá", Jo 15.16b; "... Eu sou a porta das ovelhas", Jo 10.7.
- Que disse o apóstolo Pedro, acerca de Jesus? - Ele disse "e não há salvação em nenhum outro nome, dado entre os homens pelo qual importa que sejamos salvos", At 4.12.

A BÊNÇÃO DO DÍZIMO


"O dízimo é uma obrigação do crente, ou pode ser substituído por qualquer im­portância que o crente quiser dar?"
A palavra dízimo já estabelece uma quantidade, dez, décimo, o todo dividido por dez. De acordo com Malaquias 3.10, o crente deve trazer o dízimo, isto é, 10% de sua renda. Uma quantidade maior, seria uma bênção, porém, menor, poderá carac­terizar desobediência ao que Deus deter­minou.
"Honra ao Senhor..." Podemos ver em Provérbios 3.9, que o dízimo é uma forma de honrar ao Senhor. 0 crente que real­mente compreende a Palavra de Deus, como diz o leitor, sente prazer em trazer a importância certa para a igreja. Muitos acham pesado pagar o dízimo, mas fazem grandes crediários, que mais tarde os fará cair em desonra, por não poderem pagar.
O dízimo é de Deus. A ordenança do dízimo vem de Deus. Ele mesmo o estabe­leceu e falou ao povo que, em parte esque­cido e em parte ganancioso, estava deixan­do a casa de Deus sem provimento. Alguns até roubavam para gastar nos seus pró­prios negócios. Muitos crentes não se inco­modam com a calçada do templo rachada, com as paredes manchadas, a luz deficien­te e as contas vencidas.
Jesus afirmou o dízimo. "Deveis fazer estas coisas", Mt 23.23. Jesus não disse que os fariseus estavam errados em dar o dízimo. Ele os recriminou por negligencia­rem a outra parte da justiça. O escritor aos Hebreus registrou que a igreja pagava dízi­mo, tanto quanto os sacerdotes: Hb 7.5,8. Portanto, o dízimo não pode ser uma im­portância arbitrária e ocasional, mas uma contribuição correta e sistemática para a casa de Deus. Pagar o dízimo é uma forma de alcançar maior prosperidade.

1921, Transmissão do Primeiro Progama Cristão de Rádio


O rádio tinha apenas dois meses de idade. A empresa Westinghouse, em Pittsburgh, foi a pioneira na utilização desse meio de comunicação, quando anunciou os resultados das eleições de 1920 em uma emissora que utilizava o prefixo KDKA. Os primeiros ouvintes usavam aparelhos primitivos, feitos em casa, mas, agora, a Westinghouse vendia um grande número de aparelhos de rádio já prontos — e os compradores precisavam ter programas para ouvir. Diante da busca frenética por programas, aquela estação de rádio decidiu transmitir o culto de uma igreja. Um dos engenheiros da Westinghouse era membro do coro da Igreja Episcopal do Calvário, em Pittsburgh. Desse modo, foram feitos acertos para transmitir um culto daquela igreja no primeiro domingo de 1921. O ministro-principal, bastante cético, deixou o culto a cargo de seu ministro auxiliar, Lewis B. Whittemore. Dois engenheiros da KDKA — um católico e um judeu — operaram o equipamento. Eles vestiram as mesmas becas do coro para que sua presença na plataforma não distraísse a congregação. A resposta à transmissão foi tão positiva que o culto se tornou um programa regular da KDKA. Na área de Chicago, o pregador Paul Rader levou um quarteto de metais para um "estúdio" no telhado de uma casa, composto de uma grande caixa de madeira com um buraco em um dos lados. “Aprontem-se e apontem seus instrumentos para este buraco aqui”, disse o técnico. "Quando eu der o sinal para tocar, vocês tocam." Ele colocou o microfone de um aparelho telefônico antigo pelo buraco e disse: "Toquem!". O quarteto tocou. Rader pregou. A resposta favorável levou Rader a procurar outras estações de rádio da área de Chicago. Percebendo que a rádio WBBM de Chicago fechava todos os domingos, ele deu um jeito para conseguir usar seus estúdios naquele dia. Por catorze horas, todos os domingos, Rader conduzia sua estação de rádio semanal, chamada WIBT, Where Jesus blesses thousands [Onde Jesus abençoa milhares] Assim como ocorreu com muitos outros avanços tecnológicos, muitos cristãos evangélicos temiam a introdução do rádio. Além do mais, Satanás não era o "o príncipe das potestades do ar"? A maioria dos pregadores pioneiros do rádio enfrentou mais oposição vinda da própria igreja do que da sociedade secular. Na cidade de Omaha, no Estado norte-americano de Nebraska, a rádio WOAW (mais tarde conhecida por wow) começou a transmitir em abril de 1923. A estação foi desprezada por diversos pregadores, até que pediram a R. R. Brown, ministro da Aliança Cristã Missionária, novo na cidade, que assumisse a programação da Rádio. Brown pediu conselho a um amigo. Este lhe disse que estava orando para que Deus "concedesse autoridade" sobre essa nova (e potencialmente mundana) Paul Rader, pioneiro nos programas cristãos de rádio
estação de rádio. Seria Brown aquele que exerceria essa autoridade? Brown concordou em fazer apenas o primeiro programa, mas, ao deixar o estúdio depois da transmissão, um homem se encontrou com ele, afirmando que fora convencido pelo Espírito Santo e que se convertera pela transmissão do programa. Brown gritou: "Aleluia! A unção pode ser transmitida!". Em Chicago, a WGES preparava uma transmissão remota da Exposição de Produtos de Illinois em 1925. Estavam prontos para entrar no ar, mas os músicos ainda não haviam chegado. Por acaso, um dos funcionários da estação ouvira dois estudantes tocando cometas no estande do Instituto Bíblico Moody e correram para eles a fim de "pedir o serviço deles emprestado". Alguns dias depois, a estação de rádio convidou o Instituto Bíblico Moody para realizar um programa de uma hora todos os domingos. Isso acabou por levar à criação da própria estação de rádio do Instituto, chamada WMBI. Em 1928, Donald Grey Barnhou-se tornou-se o primeiro pregador de rádio a comprar um horário em rede nacional, transmitindo seu programa pela CBS a partir da Décima Igreja Presbiteriana da Filadélfia. Em 1930, Clarence Jones e Reuben Larson lançaram a primeira estação de rádio missionária, a HCJB, na cidade de Quito, Equador, e essa foi a primeira estação de rádio daquele país. Durante a grande moda do rádio no meio da década de 1920, muitas igrejas e ministérios começaram a fazer transmissões. Em 1928, havia sessenta estações de rádio de cunho religioso. Nesse momento, a comissão federal de rádio instituiu novas regras, padronizando freqüências e eliminando muita confusão. As regulamentações extinguiram as rádios menores, mas ajudaram as que estavam mais bem aparelhadas. Em 1932, apenas trinta estações de rádio religiosas ainda operavam. Contudo, na segunda metade do século, a mídia cristã cresceu bastante. Líderes como Billy Gra-ham, Rex Humbard, Oral Roberts e Pat Robertson, sem falar do bispo Fulton Sheen, abriram o caminho para a televisão nas décadas de 1950 e 1960. O rádio e a televisão desempenharam um papel muito importante no ressurgimento do fundamentalismo no final da década de 1970. O envolvimento dos cristãos com o rádio, na década de 1920, revelou um pouco da esquizofrenia do fundamentalismo americano. "Separação" era a palavra em voga. Pregadores fundamentalistas, como Billy Sunday, pediam a seus ouvintes que evitassem o "mundanismo" em todas as suas formas. Os fundamentalistas também foram os que preservaram um evangelho expansivo. Para serem verdadeiros com ele, precisavam levar a palavra aos outros. Para isso, era necessário usar todos os meios disponíveis — inclusive as ondas de rádio — para pregar sobre Jesus. Desse modo, o surgimento das rádios cristãs foi o acontecimento precursor dos movimentos evangélicos das décadas de 1930 e 1940, nos quais o ímpeto evangelístico começou a suavizar a abordagem radical dos separatistas. Conforme as emissoras de televisão cristãs se expandiam a partir das rádios cristãs, a transmissão religiosa tornou-se um grande negócio. Nos EUA, o encantamento da televisão capturara o público em geral, de modo que ela se tornou a maior fonte de entretenimento — ou de inatividade — para a maioria das pessoas. Os cristãos também foram cativados por sua mística. Pregadores empreendedores construíram grandes organizações e instituições (parques de diversão, universidades, catedrais de cristal) como base para seus ministérios televisivos. Eles procuravam firmar uma forte presença política nos anos de 1980, em que um deles, Pat Ro-bertson, chegou até mesmo a concorrer à presidência dos EUA. Os ministérios religiosos televisivos alcançavam apenas uma pequena fração do público americano. Os analistas de audiência das transmissões seculares sempre souberam disso e nunca encararam a programação religiosa como ameaça suficientemente forte para tirar sua audiência. Os cristãos, no entanto, ficaram enamorados com a idéia de que ao menos estavam presentes no poderoso mundo da televisão e, no final da década de 1980, subsidiavam a transmissão de programas religiosos a um custo de 2 bilhões de dólares por ano nos EUA. Infelizmente, escândalos
morais envolvendo dois dos maiores ministérios atingiram a "grande audiência", cuja repercussão foi muito maior do que aquela que os programas religiosos alcançaram. Assim como a televisão mudou a maneira de os americanos elegerem os políticos durante as décadas de 1970 e 1980, a religião televisiva sem dúvida influenciou, de forma decisiva, a percepção pública da natureza e do significado do cristianismo. É muito cedo para realmente sabermos de que maneira a programação religiosa da televisão atingiu a igreja durante esse período, mas será importante descobrir isso.

1906, O Avivamento da rua Azusa.




"Com gritos estranhos e pronunciando coisas que aparentemente nenhum mortal em seu juízo normal pudesse entender, teve início, em Los Angeles, a mais recente seita religiosa." Foi isso o que disse a edição de 18 de abril de 1906 do Los Angeles Times. 'As reuniões acontecem em um prédio decadente da rua Azusa, e os devotos de doutrinas estranhas praticam os ritos mais fanáticos, pregam as mais extravagantes teorias e se colocam em um estado de louca euforia quando se entregam ao fervor pessoal." A publicidade negativa realmente ajudou a trazer mais pessoas. Alguma coisa sobrenatural acontecia naquele prédio antigo. William J. Seymour, pregador batista negro, recém-chegado de Houston, chamava os crentes a dar um passo a mais. Na verdade, dois passos: ele queria que eles se "santificassem" e que fossem "batizados no Espírito Santo". O batismo, dizia ele, seria acompanhado pelo falar em línguas. Houve outras irrupções do falar em línguas ao redor dos EUA e da Europa nos anos anteriores, mas o acontecimento da rua Azusa foi a grande explosão. As reuniões continuaram naquele "prédio decadente" por vários anos. Muitas pessoas viajaram para lá simplesmente para ver o que estava acontecendo. O mundo estava pronto para o avivamento. O final do século XIX assistiu à grande revolução industrial. As pessoas se tornavam engrenagens da máquina social. A lacuna entre os ricos e os pobres aumentava. Infelizmente, a igreja, com freqüência, pendia mais para os ricos. Até mesmo grupos "comuns" e tradicionais, como os batistas e os metodistas, enfatizavam mais os bens materiais do que a energia espiritual. Graças aos precursores avivalistas, como Finney e Moody, as igrejas estavam cheias. Porém, muitos que professavam o cristianismo ainda careciam de alguma coisa. O movimento Holiness [Santidade] foi o primeiro passo na direção do avivamento. Essas agitações, especialmente na Igreja Metodista, buscavam uma "segunda bênção" de Deus, na qual os crentes seriam "santificados" para viver uma vida santa. Os ensinamentos de Keswick também tiveram seu impacto, tanto na Europa quanto nos EUA. Criados nas convenções anuais de Keswick, na Grã-Bretanha, os mestres de Keswick imploravam aos cristãos: "Caminhem no poder da ressurreição de Cristo"; "Deixe Cristo reinar em sua alma". Não aconteceu nada muito radical ali, a não ser a vontade de uma experiência cristã mais plena, para utilizar a linguagem que os pentecostais usariam mais tarde. Outra corrente de pensamento que apressou o surgimento do incipiente movimento pentecostal foi o pré-milenarismo, popularizado por J. N. Darby e a Irmandade de Plymouth. A virada do século fez com que as posições pré-milenaristas e pós-milenaristas ficassem conhecidas. Muitos começaram a propagar a idéia de um "século cristão", no qual a igreja e a tecnologia prenunciariam o Reino de Deus. Os pré-milenaristas, no entanto, afirmavam que o fim dos tempos estava próximo, pois seria caracterizado, como era profetizado, pelo irromper de uma atividade espiritual. É possível encontrar base para o movimento pentecostal em 1896. William F. Bryant liderou o avivamento no condado de Cherokee, na Carolina do Norte, que incluía o falar em línguas. Como essas manifestações continuaram, as pessoas foram expulsas das igrejas, edifícios religiosos foram queimados e o próprio Bryant foi atingido por um tiro. Falar em línguas não era uma atividade popular no condado de Cherokee.
O avivamento no País de Gales, entre 1904 e 1906, teve, certamente, impacto no clima religioso de sua época. Evan Roberts, ex-mineiro, viajou por todo o país de Gales e, mais tarde, pelo mundo, proclamando o ministério do grande avivamento do Espírito. O falar em línguas não era enfatizado de maneira específica, mas sim o poder espiritual. Um pequeno grupo de pastores da área de Los Angeles visitou o País de Gales e tentou trazer o avivamento para suas igrejas, mas obtiveram sucesso limitado. Contudo, as sementes da restauração estavam sendo lançadas em Los Angeles. Se preferir, você pode observar o movimento de restauração da virada do século XIX que apelava para um retorno aos dons e às práticas da igreja apostólica, especialmente o dom de cura. John Alexander Dowie afirmava que era Elias, o restaurador, e estabeleceu uma comunidade cristã (que mais tarde se tornou a cidade de Zion [Sião], no Estado de Illinois). No Estado do Maine, Franck Sandford também afirmava ser Elias, o restaurador, que viera estabelecer uma comunidade em Shiloh [Silo]. Em 1900, Charles Fox Parham passou cerca de seis semanas em Shiloh. Ele era um pregador metodista da linha Holiness, do Kansas, que procurava a "fé apostólica". Ele e sua esposa fundaram uma "casa de cura" em Topeka, onde as pessoas poderiam permanecer gratuitamente enquanto oravam por sua cura. Em Shiloh, Parham ficou impressionado com a escola bíblica fundada por Sandford, O Espírito Santo e Nós, cuja abordagem era claramente antiacadêmica. A Bíblia era o único texto usado, e o único professor era o Espírito Santo. Parham fundou uma escola similar, quando voltou para sua casa. Cerca de quarenta estudantes se matricularam. Em dezembro daquele ano, Parham pediu a seus alunos que procurassem nas Escrituras, para ver se havia algum sinal que supostamente indicaria a existência do batismo no Espírito Santo. Quando se reuniram no culto de vigília do Ano-Novo, eles já tinham a resposta: o batismo no Espírito Santo seria manifestado pelo dom de línguas. Agnes Ozman orou para receber o Espírito Santo e "a glória caiu sobre ela", como disse Parham. "Um halo parecia cercar sua cabeça e seu rosto, e ela começou a falar o idioma chinês. Ela não foi capaz de falar inglês por três dias." No mês seguinte, a maioria dos alunos teve experiência similar. Os esforços de Parham para espalhar esse avivamento para as cidades de Kansas City e Lawrence fracassaram. As igrejas se opuseram, e os jornais zombaram desse fato. Em 1903, uma mulher do Texas foi curada depois de uma oração de Parham, o que levou a convidá-lo a promover um avivamento na cidade de Galena, no Texas. Esse empreendimento foi bem-sucedido. Em 1905, essas reuniões "pentecostais" ou do "evangelho pleno" aconteciam no Mis-souri, no Kansas e no Texas, e eram freqüentadas por cerca de 25 mil pessoas. Depois da campanha de Houston, em 1905, Parham fundou outra escola bíblica ali. Um dos alunos mais promissores foi William J. Seymour. Uma mulher de Los Angeles visitou a escola de Houston e teve uma experiência de batismo no Espírito Santo. Quando retornou para sua casa, ela insistiu em que a congregação do Nazareno convidasse Seymour para ser pastor auxiliar daquela comunidade. Ironicamente, a igreja que trouxera o avivamento pentecostal para Los Angeles não queria ter participação alguma nesse avivamento. A ênfase que Seymour dava ao ato de falar em línguas ofendeu alguns membros, e ele ficou proibido de participar da igreja. Por fim, ele começou a realizar cultos na casa de alguns amigos. Os cultos duraram três dias e três noites, atraindo muito mais pessoas do que a casa comportava. As pessoas se organizaram para mudar para um prédio na rua Azusa, ocupado anteriormente por uma Igreja Metodista. Ali, sentadas (e em pé!) nos bancos de tábua, entre materiais de construção, as pessoas continuaram seu culto de adoração cheias do Espírito. A igreja passou a se chamar Missão Evangélica da Fé Apostólica. Todas as linhas da renovação espiritual pareciam convergir para esse prédio. Ele foi a Meca pentecostal. Por vários anos, serviu como centro de um movimento pentecostal crescente. As pessoas visitavam o local e tentavam levar de volta para suas casas o que encontravam ali. A despeito desse foco geográfico, o movimento pentecostal foi extremamente diversificado. Havia um grande número de líderes carismáticos, incluindo Seymour e Parham, que reuniam
seguidores, bem como disputavam uns com os outros. O movimento também foi intencionalmente desvinculado de organização e de denominações, pois se preocupava apenas em seguir a orientação do Espírito. Isso pode explicar a abundância de pequenas denominações pentecostais que existem hoje. A Assembléia de Deus, a maior denominação pentecostal hoje em dia, começou como uma tentativa de alcançar alguma coesão — assim como alguma regulamentação — dentro do movimento. Havia muitas acusações de conduta inadequada nas áreas financeira e sexual por parte dos principais pregadores. Havia também várias disputas doutrinárias. Um grupo de pentecostais do sul dos EUA, liderado por Eudorus N. Bell, passou a se autodenominar Fé Apostólica e começou a buscar união dentro do movimento. A medida que outras pessoas se juntaram a eles, o nome mudou para Igreja de Deus em Cristo. Em 1913, essa igreja era composta por 352 ministros em uma associação bastante livre, sem qualquer autoridade que os unisse. Em abril de 1914, o grupo convocou todos os pentecostais para uma reunião em Hot Springs, no Arkansas. O propósito era: união, estabilidade, credibilidade do movimento e criação de um programa de missões e de institutos bíblicos. Foi assim que nasceu a denominação chamada Assembléia de Deus. Apesar de as questões pentecostais se tornaram a razão pela qual houve divisão de muitas igrejas não-pentecostais, o pentecostalismo provávelmente foi a arma mais poderosa do cristianismo no século XX. Sua ênfase em missões e no evangelismo resultou em um crescimento fenomenal do movimento, tanto nos EUA quanto por todo o mundo.

A conversão de Dwight Lyman Moody.




O jovem de dezessete anos tentava fazer a vida na grande cidade de Boston. Depois de caminhar pelas calçadas por várias semanas, conseguiu trabalho como vendedor de sapatos na loja de seu tio. Morava no andar de cima da loja. "Tenho um quarto no terceiro andar", escreveu, "... posso trabalhar com minha máquina de costura, e existem três edifícios antigos cheios de meninas, as mais bonitas da cidade —, que xingam como papagaios [sic]". Uma das nove crianças criadas por uma jovem viúva na área rural de Northfield, Massachusetts, Dwight Lyman Moody não recebeu muita instrução, mas tinha sonhos e determinação. Contudo, a cidade de Boston não foi gentil para com ele. "Se o homem quiser sentir que está sozinho no mundo", escreveu Moody certa vez, "ele não precisa ir ao deserto, onde terá a companhia de si mesmo; deixe que vá para alguma dessas grandes cidades e que caminhe pelas ruas onde poderá encontrar milhares de pessoas, mas não achará ninguém que o conheça ou possa reconhecê-lo". "Lembro-me de quando saí por aquela cidade à busca de algum trabalho, mas não consegui encontrar nenhum. Parecia que havia um lugar para todas as outras pessoas no mundo [...] exceto para mim. Por quase dois dias tive a horrível sensação de que ninguém me queria." Moody ouviu os abolicionistas discursarem em um lugar próximo do Faneuil Hall. Passou a freqüentar a Associação Cristã de Moços (ACM), organização que, havia pouco tempo, fora importada da Inglaterra, além de começar a freqüentar a Igreja Congregational de Mt. Vernon para ouvir os sermões do famoso Edward Norris Kirk. Moody achou a pregação bastante poderosa e tocante — tão tocante que, por diversas vezes, caiu no sono. "Um jovem aluno de Harvard [...] deu-me um cutucão com o cotovelo, e, a seguir, esfreguei meus olhos com a ponta de meus dedos e acordei. Olhei para o ministro e — vejam só — achei que ele pregava diretamente para mim. Então, falei para mim mesmo: 'Quem será que contou alguma coisa sobre mim ao dr. Kirk?' [...] No final do culto [...] peguei meu casaco e saí dali o mais rápido que pude." Seu professor da escola dominical, Edward Kimball, tomava conta do jovem Moody, insistindo em que voltasse a prestar atenção quando se desviava. Ele também desafiava Moody a ler a Bíblia com regularidade. Ele até tentou, mas não conseguia entendê-la. "Conheci poucas pessoas com mente tão obscura em termos espirituais como a daquele jovem que começara a freqüentar minha classe", escreveu Kimball mais tarde. Em 21 de abril de 1855, Kimball achou que era hora de pedir que Moody assumisse um compromisso com Cristo. Ele foi até a loja de sapatos e parou meditativo bem em frente a ela. Pôs-se a caminhar de lá para cá e, sem mais nem menos, como se tivesse mudado de idéia, entrou de repente na loja. Encontrou Moody empacotando sapatos e colocando-os nas prateleiras. O jovem já estava pronto para ouvir. Naquele dia, D. L. Moody tornou-se cristão. Demorou um pouco para que Moody compreendesse as implicações de sua fé. Na realidade, foi-lhe negada a filiação à igreja porque não passou no exame de admissão: ele não conseguiu explicar D. L. Moody
o que Cristo fizera por ele. Entretanto, seu coração estava transformado. Ele não tinha vergonha de ser cristão e continuava aprendendo sobre sua fé. Não demorou muito para ele se cansar de Boston, levando seus sonhos rumo a oeste, para a cidade de Chicago. Seu jeito impetuoso era bem mais aceito ali, e ele se deu bem na venda de sapatos. Também se envolveu em trabalhos evangelísticos. Certa vez, caminhou até uma missão na rua North Wells e perguntou se poderia ensinar em uma classe de escola dominical. Disseram-lhe que a missão tinha muitos professores, mas não havia alunos suficientes. Se ele pudesse trazer alunos, então poderia ensiná-los. Isso não era problema para alguém como Moody, que possuía as habilidades de bom vendedor. Em pouco tempo, ele lecionava para uma multidão de crianças pobres. Em 1861, Moody já trabalhava em tempo integral no ministério, tanto com a escola dominical quanto na ACM. Ele conseguiu apoio de comerciantes locais como John Farwell e Cyrus McCormick. Em 1864, sua missão foi transformada em igreja. Em 1871, o ministério de Moody em Chicago era bastante confortável, seguro e próspero. Ele começou a pensar na possibilidade de viajar como evangelista, mas por que deixaria uma situação tão boa? O grande incêndio de Chicago fez com que mudasse de idéia. Sua igreja, sua casa e o prédio da ACM se transformaram em um monte de cinzas, e o mesmo aconteceu com o comércio de seus patrocinadores. Seria muito difícil levantar dinheiro em outras cidades para reconstruir o ministério em Chicago, de modo que Moody decidiu botar o pé na estrada. Ele viajou para a Inglaterra em 1873. Suas reuniões evangelísticas varreram as ilhas britânicas como uma verdadeira tempestade. Depois de dois anos de trabalho na Grã-Bre-tanha, voltou para os EUA como uma celebridade internacional. Foi convidado a pregar em muitas cidades americanas. Seguindo os passos da tradição avivalista estabelecida por Charles Finney, Moody trouxe o evangelismo para a era industrial. Pregava um evangelho simples, livre de divisões denominacionais. Isso expandiu sua influência, assim como o apoio que recebia. Moody fez alianças de peso com os comerciantes respeitáveis, que foram os líderes da nova geração, e não os pregadores. Ele insistia em que os homens colocassem suas riquezas em boas causas, como cuidar dos pobres em áreas urbanas. Moody trouxe técnicas de negócio para o planejamento evangelístico. Música, aconselhamento e acompanhamento eram partes de uma abor dagem organizada para atingir o coração das pessoas. Em 1879, Moody voltou sua atenção para a educação, criando o Seminário de Northfield, para moças, e depois a Escola Monte Hermom, para rapazes. Deu início às conferências bíblicas de verão e ao Instituto Bíblico, que hoje possui seu nome. Inicialmente, ele temia competir com os seminários já estabelecidos, porém, cada vez mais, percebia a necessidade de treinamento prático para o ministério. Seu problema não estava relacionado tanto com a linha liberal dos seminários norte-americanos, mas o que o perturbava era o isolamento dessas escolas com relação às pessoas comuns. Seu objetivo era treinar comunicadores que pudessem levar a verdade simples de Deus às massas que precisavam dela. Essa abordagem prática persiste no foco do império que possui seu nome. O Instituto Bíblico Moody, por exemplo, continua a treinar pastores, missionários e outros obreiros. A influência de Moody, no entanto, chegou muito além disso. Ele foi o precursor de evangelistas como Billy Sunday e Billy Graham, e o aspecto social de seu evangelismo ajudou a inspirar profundo compromisso com o ministério social entre os evangélicos.

Charles Haddon Spurgeon, torna-se Pastor em Londres.




"Isso deve ser um engano." Foi isso o que Charles Haddon Spurgeon pensou quando lhe pediram para pregar na capela da rua New Park, em Londres. Era uma igreja de grande prestígio, em um maravilhoso edifício antigo, e Spurgeon tinha apenas dezenove anos de idade. Entretanto, não era um engano. Depois de ter falado, Spurgeon foi convidado a se tornar o pastor principal daquela igreja, e manteve-se nesse posto por quase quatro décadas. Spurgeon dificilmente seria o tipo apropriado para uma sociedade londrina claramente dividida em classes. Nascido em uma família de huguenotes, em uma área rural de Essex, viveu com seus avós quando criança porque seus pais eram muito pobres para cuidar dele. Seu avô e seu pai eram ministros congregacionais, mas Charles freqüentou uma escola agrícola — ainda que por apenas alguns meses. Lutando com as necessidades de sua alma, Spurgeon decidiu ir à igreja no primeiro domingo de 1850. Uma nevasca impediu que fosse até a igreja que ele pretendia freqüentar, mas terminou indo a uma capela mais próxima, uma metodista primitiva. O orador era ignorante, como disse o próprio Spurgeon mais tarde, mas lançou um desafio direto ao jovem Charles. Como resultado, Spurgeon tornou-se cristão aos dezesseis anos de idade. Spurgeon logo descobriu que tinha o dom da oratória. Em 1852, ele se tornou pastor de uma pequena Igreja Batista em Waterbeach. Era uma área bastante rude, e as pessoas daquela região eram conhecidas por seu apego à bebida. Spurgeon desenvolveu um estilo direto. Seus ouvintes não deveriam esperar por explicações teológicas floreadas — ele simplesmente diria a eles o que a Bíblia tinha a dizer. A fama do "jovem pregador" de Waterbeach começou a se espalhar. Logo, a diretoria da capela da rua New Park decidiu dar-lhe uma oportunidade. A igreja possuía um histórico magnífico, mas enfrentava dificuldades. O prédio muito bem ornamentado tinha espaço para cerca de mil pessoas, mas, nos últimos tempos, a igreja tinha dificuldades para reunir uma centena. Cerca de oitenta pessoas compareceram ao primeiro culto de Spurgeon. Talvez o jovem pregador pudesse fazer com que as coisas acontecessem. Ele fez. Seu estilo direto fez com que o povo londrino acordasse. A audiência da igreja cresceu muito rapidamente. Não demorou muito para que aquele grande templo ficasse lotado. A igreja precisou alugar o Exeter Hall, um teatro com capacidade para 4 500 pessoas.
Charles Haddon Spurgeon
Um crescimento tão rápido chamou a atenção da imprensa de Londres, cujos artigos sobre o novo pastor nem sempre eram favoráveis. "Todos os seus discursos são carregados de mau gosto, além de serem vulgares e teatrais", escreveu um jornal. Outro dizia que seu estilo "era ordinário e coloquial, repleto de extravagâncias [...] Até mesmo os solenes mistérios de nossa santa religião são tratados por ele de maneira rude, áspera e impiedosa [...] Esse é o pregador que 5 mil pessoas escutam." O número era superior: 10 mil pessoas ou mais. O Exeter Hall logo ficou muito pequeno para as multidões que queriam ouvir Spurgeon. A igreja alugou o Surrey Music Hall, com capacidade para 12 mil pessoas sentadas, e o lugar ficou lotado, sem contar as quase 10 mil que esperavam do lado de fora. Infelizmente, o culto de abertura trouxe consigo um grande desastre. Alguns agitadores gritaram "Fogo!". No pânico que se seguiu, sete pessoas morreram e 28 ficaram gravemente feridas. O incidente não contribuiu em nada para que Spurgeon passasse a ser mais tolerado pela imprensa de Londres. Havia, no entanto, um novo entusiasmo evangélico na Inglaterra de 1860, e Spurgeon estava exatamente no meio dele. Os historiadores chamaram esse episódio o Segundo Avivamento Evangélico. Outros pregadores, como Alexander Maclaren, em Manchester, e John Clifford, em Londres, também atraíam multidões. Em 1861, a capela da rua New Park concluiu a construção de um novo edifício, o Tabernáculo Metropolitano, com capacidade para 6 mil pessoas. O ministério de Spurgeon apenas começava. Publicou seus sermões, assim como comentários e livros devocionais, totalizando 140 livros. Fundou um seminário para pastores e o orfanato de Stockwell, que cuidava de 500 crianças. Tornou-se presidente de uma sociedade para distribuição da Bíblia. Ele pregava em todos os lugares sempre que lhe era dada oportunidade. O estilo de Spurgeon pode ter sido direto e simples, mas não era relaxado com relação à teologia. Ele era um batista de convicção calvinista. De certa maneira, essa mistura de tradições ajudou as duas alas: trouxe a estrutura do Calvinismo à religião das classes mais simples e ofereceu a sinceridade da fé batista às igrejas das classes mais abastadas. Seu dom era o da comunicação. Ao ler seus trabalhos, podemos encontrar um poder moderno neles. Lembre-se de que ele viveu em uma época na qual se prezava muito o estilo: o que você dizia, normalmente, não era nem de perto tão importante quanto a maneira como você falava. Spurgeon, no entanto, não tinha tempo para expressões refinadas. Ele empregava fortes imagens na linguagem e escolhia verbos que enfatizassem suas idéias. Ao fazer isso, estabeleceu um exemplo para os pregadores futuros. Os trabalhos escritos desse "príncipe dos pregadores" continuam nos catálogos de várias editoras nos dias atuais, pois ainda são muito admirados.

1608-1609, John Smyth Batiza os primeios Batistas


Na primeira década do século XVII, dois grupos fugiram para a Holanda, com a finalidade de escapar da perseguição anglicana. Um desses grupos se transformou nos peregrinos. O grupo formou o movimento dos batistas. Era uma época incerta para os cristãos na Inglaterra. A rainha Elisabete estabilizara a Reforma anglicana, assumindo uma posição moderada. Ela determinou que a Igreja Anglicana seria quase católica. A rainha já evitara as sangrentas guerras civis que assolaram o restante da Europa, mas sua decisão perturbou muitos dos protestantes mais radicais. Algumas dessas pessoas tentaram "purificar" a igreja, permanecendo dentro dela (os puritanos), mas outros decidiram se separar da igreja oficial (os separatistas). Mais ainda, era muito perigoso promover reuniões religiosas que não estivessem vinculadas à igreja oficial. Quando Tiago I assumiu o trono, em 1603, ninguém sabia exatamente o que esperar. Os puritanos e os separatistas gostaram do fato de esse monarca ter crescido na Escócia presbiteriana. Isso poderia fazer com que ele pendesse para o lado desses grupos. Os católicos gostaram do fato de sua mãe, Maria da Escócia, ter sido uma católica fervorosa. Como os fatos provaram, Tiago era anglicano convicto e tornou as coisas ainda mais difíceis para os que estavam se separando da igreja oficial. John Smyth, ex-aluno de Cambridge, era pregador e orador da Igreja Anglicana na virada do século XVII. Parece que ele se tornou interessado na busca pela verdade religiosa somente por volta dos trinta anos de idade. Perto do ano de 1606, ele deu o audacioso passo de iniciar uma igreja separatista em Gainsborough, Lincolnshire. A audácia de Smyth pode ter inspirado outros. Vários outros grupos separatistas surgiram naquela área, incluindo um em Scrooby na casa de William Brewster. Quando a oposição das autoridades se intensificou em demasia, a congregação de Smyth fugiu para Amsterdã. Isso provavelmente aconteceu em 1608. (O grupo de Scrooby fugiu para Leyden e, mais tarde, enviou parte de sua filiação para a América.) Em Amsterdã, a igreja de Smyth alugou um salão de reuniões que pertencia a um menonita. Por meio de seu contato com os menonitas de Amsterdã, Smyth começou a alterar sua maneira de pensar. Os menonitas receberam essa designação por causa de Menno Simons, ex-padre que desenvolveu uma grande comunidade anabatista na Holanda. Os anabatistas eram os radicais da Reforma, opositores das igrejas oficiais de qualquer tipo e que insistiam no batismo apenas de crentes. Smyth ficou convencido de que o batismo infantil não era ensinado pelas Escrituras, assim como também não era algo muito lógico. Desse modo, acabou por convencer cerca de quarenta membros de sua congregação, que foram rebatizados por Smyth, que também se rebatizou com eles. Você pode considerar esse acontecimento o marco inicial da Igreja Batista. Porém, faltou pouco para que as coisas não acontecessem dessa maneira. O nascimento da Igreja Batista exigiu o início de outra tradição batista: a divisão da igreja. Em 1610, duvidando da legitimidade do batismo independente que conduzira, Smyth procurou mesclar sua congregação com a Igreja Menonita. Cerca de dez membros da igreja se opuseram a essa fusão. Eles reclamaram a respeito disso com Smyth e pediram aos menonitas que não aceitassem esse grupo. (Os menonitas conseguiram postergar sua decisão e esperaram até 1615 para admitir os novos membros, três anos depois de Smyth morrer de tuberculose.)
Enquanto isso, liderado por Thomas Helwys, o grupo dissidente voltou para sua terra natal. Ali, perto de Londres, estabeleceram a primeira Igreja Batista da Inglaterra. Helwys, aristocrata rural que estudava Direito, tornou-se grande defensor da liberdade religiosa, publicando um livro intitulado Uma breve declaração do mistério da iniqüidade. Ele ousou enviar uma cópia autografada ao rei Tiago com a seguinte inscrição: "O rei é um homem mortal e não é Deus; portanto, não tem poder sobre a alma imortal de seus súditos, de modo a fazer leis e ordenanças para eles e estabelecer senhores espirituais sobre eles". Helwys foi preso e jogado na prisão de Newgate. Nunca mais se soube coisa alguma sobre ele. O movimento batista, no entanto, cresceu. Essas igrejas se tornaram conhecidas por batistas gerais, devido à sua visão da expiação. Smyth trouxera a teologia arminiana dos menonitas, sustentando que Cristo morreu por toda a humanidade, e não apenas pelos eleitos. O grupo conhecido como batistas particulares surgiu de maneira independente entre 1638 e 1640. Eram puritanos que adotaram o batismo de crentes, mas retinham sua teologia calvinista. Eles também praticavam o batismo por imersão, que os batistas gerais logo passaram a realizar. Até aquele momento, os seguidores de Smyth praticavam o batismo por as-persão. Em 1644, havia na Inglaterra 47 congregações de batistas gerais e sete de batistas particulares. Desde o início, as duas principais ênfases batistas eram evidentes: o batismo de crentes e a independência do Estado (convicção que compartilhavam com os anabatistas). Isso continuou ao longo dos séculos. Essa independência trouxe perseguição, divisão, mas também grandes feitos individuais.

Martinho Lutero Afixa as 95 Teses.




"Tão logo a moeda no cofre ressoa, a alma sai do purgatório." Essa era a curta mensagem musicada de propaganda de João Tetzel, o homem autorizado a conseguir dinheiro para construir uma nova basílica em Roma. Seu esquema para o levantamento de fundos — a venda de indulgências — era, simplesmente, a venda do perdão. "Faça com que os seus entes queridos, que já partiram, saiam do purgatório por uma pequena taxa e ganhe algum crédito adicional para os seus pecados." A corrupção reinava na igreja. Os cargos eclesiásticos eram comprados por nobres ricos e usados para alcançar mais riqueza e mais poder. Um desses nobres foi Alberto de Brandemburgo, que pedira dinheiro emprestado para se tornar arcebispo de Mainz e que precisava encontrar um modo de pagar seu empréstimo. O papa autorizou a venda de indulgencias na região de Alberto, contanto que metade do dinheiro coletado fosse usada para a construção da Basílica de São Pedro em Roma. O restante do valor levantado iria para Alberto. Todos estavam felizes, a não ser certo número de alemães devotos, dentre os quais estava Martinho Lutero. Tetzel, monge dominicano e pregador bastante popular, tornou-se o comissário das indulgências. Ele viajava de cidade em cidade, proclamando seus benefícios: "Ouça a voz de seus entes queridos e amigos que já morreram, suplicando-lhes e dizendo: 'Tenha pena de nós, tenha pena de nós. Estamos passando por tormentos horríveis dos quais você pode nos redimir, contribuindo com uma pequena esmola'. Vocês não desejam fazer isso?". Lutero, sacerdote e professor de Wittenberg, opunha-se totalmente à venda das indulgências. Quando Tetzel chegou àquela localidade, Lutero redigiu uma lista de 95 queixas e a afixou na porta da igreja, que também servia como quadro de avisos da comunidade. O perdão divino certamente não poderia ser comprado e vendido, dizia Lutero, uma vez que Deus o oferece gratuitamente. As indulgências, porém, eram apenas a ponta do iceberg. Lutero se rebelava contra toda a corrupção da igreja e pressionava para que uma nova compreensão da autoridade do papa e das Escrituras fosse adotada. Tetzel saiu logo de cena (morreu em 1519), mas Lutero prosseguiu, vindo a liderar uma revolução religiosa que mudou radicalmente o mundo ocidental. Lutero nasceu em 1483, em uma família de camponeses em Eisleben, Alemanha. Seu pai, um mineiro, levou-o a estudar Direito, enviando-o à Universidade de Erfurt. Contudo, o fato de ele ter sido poupado da morte quando um raio caiu muito próximo dele fez com que Lutero mudasse de idéia. Ele entrou para um mosteiro agostiniano em 1505, tornando-se sacerdote em 1507. Reconhecendo suas habilidades acadêmicas, seus superiores o enviaram para a Universidade de Wittenberg a fim de que obtivesse o diploma em Teologia. A inquietação espiritual que atormentava outros grandes cristãos, ao longo de todas as eras, também influenciou Lutero. Ele estava profundamente consciente do próprio pecado, da santidade de Deus e de sua total incapacidade de obter o favor divino. Em 1510, Lutero viajou para Roma e ficou desiludido com o tipo de fé mecânica que encontrou ali. Fez tudo o que pôde para ser Martinho Lutero
verdadeiramente piedoso. Subiu, até mesmo, a escada de Pilatos, em que Cristo supostamente caminhou. Lutero orava e beijava cada degrau à medida que prosseguia, mas, mesmo ali, suas dúvidas ainda fervilhavam. Poucos anos depois, voltou para Wittenberg como doutor em Teologia, para ensinar disciplinas relacionadas à Bíblia. Em 1515, começou a lecionar sobre a epístola de Paulo aos Romanos. As palavras de Paulo consumiram a alma de Lutero. "Minha situação era que, apesar de ser um monge impecável, eu me punha diante de Deus como um pecador perturbado por minha consciência e não tinha confiança de que meus méritos poderiam satisfazê-lo", escreveu Lutero. "Noite e dia eu ponderava, até que vi a conexão entre a justiça de Deus e a afirmação de que Ό justo viverá pela fé'. Então, entendi que a justiça de Deus é a retidão pela qual a graça e a absoluta misericórdia de Deus nos justificam pela fé. Em razão dessa descoberta, senti que renascera e entrara pelas portas abertas do paraíso. Toda a Escritura passou a ter um novo significado [...] esta passagem de Paulo tornou-se, para mim, o portão para o céu". Assim, mais confiante em suas crenças e com algum apoio de seus colegas, Lutero sentiu-se livre para falar contra a corrupção. Ele já criticava a venda de indulgências e a adoração das relíquias mesmo antes de Tetzel aparecer em sua região. Tetzel simplesmente fez com que o conflito alcançasse uma posição de destaque. As noventa e cinco teses de Lutero eram profundamente restritas, caso consideremos a sublevação que provocaram. Afinal, eram apenas um convite ao debate. Ele realmente conseguiu um debate, primeiramente com Tetzel e, mais tarde, com o renomado estudioso João Eck, que acusou Lutero de heresia. No primeiro momento, parecia que Lutero esperava que o papa concordasse com ele sobre o abuso na questão das indulgências. Conforme a controvérsia continuou, Lutero, porém, solidificou sua oposição ao papado. Em 1520, o papa emitiu uma bula (decreto) condenando as idéias do monge alemão, e Lutero a queimou. Em 152 1, a Dieta (concilio) de Worms ordenou que Lutero se retratasse. Ali, segundo a lenda, Lutero afirmou: "Não posso fazer outra coisa. Aqui estou. Deus me ajude. Amém". Depois disso, Lutero foi excomungado, e seus escritos foram banidos. Para sua proteção, foi levado à força por seu patrono Frederico, o Sábio, e ficou escondido no castelo de Wartburg. Ali, ele trabalhou em outros escritos teológicos e na tradução do Novo Testamento para o alemão popular. Contudo, a batalha apenas começava. Quando ousou fazer oposição ao papa, Lutero despertou os sentimentos de independência tanto nos nobres alemães quanto no povo em geral. A Alemanha se tornou uma colcha de retalhos, à medida que alguns nobres apoiaram Lutero e outros permaneceram leais a Roma. A Reforma já estava em preparação também na Suíça, liderada por Ulrico Zuínglio. A igreja e o Sacro Império Romano voltaram sua atenção para as batalhas políticas que se estenderam por toda a década de 1520. Quando decidiram agir de forma enérgica contra os reformadores, já era tarde demais. Uma reunião realizada na cidade de Augsburgo, em 1530, chegou perto de fazer com que a causa luterana voltasse a ficar sob a tutela romana. Filipe Melâncton, amigo de Lutero, preparou uma afirmação conciliatória das idéias de Lutero, apresentando seu ponto de vista como um posicionamento fiel ao catolicismo histórico. Porém, o concilio católico exigiu concessões que Lutero não faria, e a ruptura se tornou definitiva. Em retrospecto, parece que os acontecimentos da Reforma devem muito à personalidade única de Lutero. Se não fosse sua dúvida profunda, talvez jamais tivesse garimpado as verdades das Escrituras como fez. Sem seu zelo pela justiça, talvez nunca afixasse seu protesto na porta da catedral. Sem sua impetuosidade, talvez jamais atraísse um número significativo de seguidores. Ele viveu em um tempo propício às mudanças e era o homem indicado para fazer com que acontecessem.

1498, Savonarola é Executado

Savonarola é Executado,

No final do século XV, o Renascimento desabrochava em Florença. O governador daquela república, Lorenzo de Mediei, um tirano, tornara-se patrono das artes e trouxera muitos grandes homens para elevar a cultura de sua cidade. Contudo, enquanto a arte e a literatura vicejavam em Florença, o mesmo acontecia com a corrupção e a ganância. O governo Medici levara a cidade à vida centrada em si mesma e em volta de sua riqueza. A igreja também sofreu essa influência, de modo que o voto de pobreza tinha pouco significado nos mosteiros florentinos. Girolamo Savonarola, monge dominicano zeloso e piedoso que levava a sério a tradição de pregação de sua ordem, chegou a essa cidade mundana. Embora ele falasse de maneira dura contra o pecado, profetizando a queda dessa cidade que se dizia cristã, mas que se importava apenas com sua pompa, o monge caiu nas graças dos florentinos. Multidões se formavam para ouvir suas palavras. Em 1494, quando a França atacou a cidade, o povo de Florença perdeu a confiança nos Médicis e os derrotou numa revolução popular. Savonarola tornou-se o novo governante, e uma maravilhosa mudança aconteceu naquela localidade. As pessoas abandonaram os sinais de seu estilo de vida frivolo, incluindo suas roupas finas e o jogo. Banqueiros e comerciantes devolveram o que haviam tirado das pessoas de maneira ilícita. Homens de boas famílias tornaram-se monges. Savonarola, no entanto, atacava o papa, como o restante do clero mundano. O papa Alexandre VI, de forma escandalosa e infame, era pai de um grande número de filhos ilegítimos. Em 1495, cansado dos ataques de Savonarola, o papa ordenou que o dominicano parasse com suas pregações. Savonarola obedeceu e passou a se dedicar ao estudo. Um ano depois, aparentemente acreditando que humilhara o monge, Alexandre permitiu que ele voltasse a pregar novamente. Não demorou muito para que o monge voltasse a atacar, de forma veemente, a corrupção da igreja. Em 1497, o papa excomungou Savonarola, mas o povo de Florença apoiou o monge. Um ano depois, o papa ameaçou a cidade com o interdito, a não ser que ela lhe enviasse Savonarola. Apesar dos apelos de Savonarola a vários líderes de outras nações, pedindo que convocassem um concilio para depor o papa, nada aconteceu. Os habitantes de Florença experimentaram uma conversão apenas superficial, pois, quando nenhuma ajuda chegou, eles se voltaram contra seu líder. O governo da cidade caiu nas mãos de um partido hostil e eles entregaram Savonarola a dois embaixadores do papa, que tinham instruções para certificar se de que o monge rebelde seria executado. Savonarola e dois de seus seguidores foram queimados na grande praça da cidade. Embora muitos protestantes saúdem Savonarola como um deles, seu pensamento era, na verdade, católico. Contudo, como muitos antes dele, Savonarola tinha o grande desejo de ver as pessoas vivendo da maneira como os que Cristo chamara deviam viver. A sociedade mundana e rica à qual ele se opôs não podia tolera sua condenação. O reformador Girolamo

1456 João Gutenberg produz a primeira Bíblia impressa


Durante a Idade Média, apenas poucas pessoas possuíam a Bíblia ou livros de qualquer tipo. Os monges copiavam os textos à mão, em folhas de papiro ou em pergaminhos feitos de peles de animais. O custo desses materiais e a remuneração do tempo utilizado pelos copistas estavam muito além das posses do homem comum, mesmo quando o livro que determinada pessoa quisesse ler estivesse ao seu alcance. Não havia muitas pessoas que conseguiam ler na própria língua, e muitos livros — incluindo-se a Bíblia — estavam disponíveis apenas em latim, língua que um número ainda menor de pessoas compreendia. O povo comum confiava no sacerdote local e nos desenhos ou nas imagens da igreja para obter informação sobre a Bíblia. O sacerdote local, com freqüência, tinha pouco ou nenhum treinamento em latim, e seu conhecimento da Bíblia era bastante precário. Embora os estudiosos debatessem sobre as Escrituras e escrevessem comentários, seus pensamentos dificilmente chegavam até o cristão comum. Uma das maiores mudanças do século xv teve enorme impacto sobre essa situação. Na década de 1440, João Gutenberg experimentou a impressão com tipos móveis de metal. Ao montar um livro com tipos de chumbo, ele podia fazer muitas cópias a um custo muito inferior ao de um texto copiado à mão. Em 1456, Gutenberg — ou um grupo do qual ele fazia parte — imprimiu duzentas cópias da Vulgata, a Bíblia latina, revisada por Jerónimo. O homem comum não podia ainda compreender a Palavra de Deus, mas esse foi o primeiro passo de uma enorme revolução. Durante algum tempo, os impres-sores de Mainz guardaram segredo sobre as técnicas de Gutenberg, mas, em 1483, quando Martinho Lutero nasceu, todos os grandes países da Europa já tinham pelo menos uma máquina de impressão. No espaço de cinqüenta anos, desde a primeira impressão da Bíblia de Gutenberg, os impressores já haviam ultrapassado a quantidade de material que os monges produziram em vários séculos. Os livros passaram a ser disponibilizados em diversas línguas, e houve um aumento do número de pessoas que sabiam ler e escrever. Sem a invenção de Gutenberg, talvez os objetivos da Reforma tivessem levado mais tempo para ser alcançados. Uma vez que apenas o clero podia ler a Palavra de Deus e compará-la aos ensinamentos da igreja, a Bíblia tinha um impacto limitado sobre o cristão comum. Com a invenção da máquina de impressão, Lutero e os outros reformadores poderiam fazer com que a Palavra de Deus ficasse disponível "a todo jovem do campo e a qualquer empregada doméstica". Lutero traduziu as Escrituras para um alemão bastante eficaz e de fácil leitura, usado durante vários séculos. A partir do momento em que todos tiveram acesso à Bíblia, nenhum sacerdote, papa ou concilio se colocava entre o cristão e sua compreensão da Bíblia. Embora muitos afirmassem que o homem comum poderia não compreender a Palavra de Deus e talvez precisasse que ela fosse interpretada pelos clérigos, os alemães começaram a fazer exatamente isso. Gutenberg examina as páginas saídas da máquina de impressão
Conforme liam, esses homens e mulheres comuns começaram a se sentir parte do maravilhoso mundo da Bíblia. O ensinamento da Bíblia em casa tornou-se possível. Lentamente, a barreira entre o pastor e o membro da igreja foi destruída. Em vez de se preocupar com o pensamento "O que tenho de confessar ao sacerdote?", o crente podia perguntar: "Será que a minha vida está de acordo com a Palavra de Deus?". Com a invenção de uma complexa ferramenta de impressão, um fogo foi aceso por toda a Europa, uma chama que espalhou tanto o evangelho quanto a instrução. Com bastante freqüência, isso assumiu a forma de troca de idéias teológicas e o afastamento dos grupos heréticos da igreja. Porém, a igreja — que ainda não fora capaz de alçar vôo — não poderia impor qualquer sistema de fé aos que estavam no erro. Em 1184, o papa Lúcio in, preocupado com o sistema de crenças dos freqüentadores da igreja, pediu que todos os bispos "inquirissem" sobre as crenças de seu rebanho. Um homem que fosse culpado de heresia seria excomungado, ou seja, colocado para fora da igreja. Contudo, não deveria ser punido fisicamente e, caso se retratasse de sua heresia, seria readmitido à igreja. Teoricamente, a igreja usou esse instrumento tanto para corrigir de maneira amorosa um irmão que estava equivocado quanto para proteger os outros desse erro.

1415, João Hus é condenado a fogueira


João Hus é condenado a fogueira


 "Vamos cozinhar esse ganso." O homem a quem essas palavras se referem era João Hus, cujo sobrenome significa "ganso", em seu idioma pátrio, o tcheco. A pessoa que proferiu essas palavras se referia ao fato de que Hus seria queimado em uma fogueira. Porém, quando o Estado e as autoridades eclesiásticas condenaram Hus, estavam acendendo a fogueira do nacionalismo e da Reforma da igreja. Em 1401, João foi ordenado sacerdote. Ele passou a maior parte de sua carreira ensinando na Universidade de Praga e pregando na influente Capela de Belém, não muito longe da universidade. Embora a terra de Wycliffe ficasse longe da Boêmia, sua influência se espalhou depois que o rei Ricardo II da Inglaterra casou-se com Ana, irmã do rei da Boêmia. Ana abriu caminho para que os habitantes da Boêmia fossem estudar na Inglaterra. Assim, os escritos reformistas de Wycliffe começaram, lentamente, a se espalhar pela Boêmia. Nas paredes da Capela de Belém, as pinturas contrastavam o comportamento dos papas e de Cristo. O papa caminhava montado em um cavalo, mas Cristo andava a pé; Jesus lavava os pés dos discípulos, e o papa permitia que as pessoas beijassem seus pés. O mundanismo do clero ofendia Hus, que pregava e ensinava contra isso, ao enfatizar a piedade pessoal e a pureza de vida. Quando enfatizou o papel da Bíblia na autoridade da igreja, ele elevou a pregação bíblica a um importante lugar no culto. Os ensinamentos de Hus se tornaram populares entre as massas e algumas pessoas da aristocracia, incluindo-se a rainha. Conforme sua influência na universidade crescia de forma notável, a popularidade dos textos de Wycliffe também aumentava. O arcebispo de Praga se opunha aos ensinamentos de Hus. Ele instruiu Hus a parar de pregar e pediu que a universidade queimasse os textos de Wycliffe. Quando Hus se recusou a cooperar, o arcebispo o condenou. O papa João XXIII (um dos três papas do Grande Cisma, também conhecido por "antipapa") colocou Praga sobre interdito — ato que efetivamente excomungava toda a cidade, porque ninguém ali poderia receber os sacramentos da igreja. Hus concordou em sair de Praga para ajudar a cidade, mas continuou a atrair multidões enquanto pregava nas igrejas e organizava reuniões ao ar livre. Hus suscitou a oposição do clero não apenas por denunciar o estilo de vida imoral e extravagante do clero — incluindo o papa —, mas ao afirmar que somente Cristo é o cabeça da igreja. Em seu livro Sobre a igreja, defende a autoridade do clero, mas afirma que somente Deus pode perdoar os pecados. Hus disse também que nenhum papa ou bispo poderia estabelecer doutrinas contrárias à Bíblia, assim como nenhum cristão verdadeiro poderia obedecer às ordens de um clérigo se elas estivessem claramente equivocadas. Em 1414, Hus foi convocado ao Concilio de Constança para defender seus ensinamentos. Sigismundo, imperador do Sacro Império Romano, prometeu-lhe salvo-conduto. O concilio já tinha uma opinião formada sobre Hus. Ele foi preso imediatamente após sua chegada. O concilio condenou tanto os ensinamentos de Wycliffe quanto os de Hus, que defendia as idéias de Wycliffe. Sob ataque, Hus se recusou a negar que afirmara que quando um papa ou um bispo estivesse em pecado mortal, ele deixava de ser papa ou bispo. Em sua defesa oral, complementou suas declarações dizendo que o rei também deveria fazer parte dessa lista. Sigismundo convocara o concilio para corrigir o Grande Cisma, o que foi realmente alcançado.
Contudo, é natural que nenhum concilio que restaurasse a autoridade do papa recebesse de bom grado um rebelde, que questionava seu direito de fazer isso. Abatido por sua longa prisão, pela doença e pela falta de sono, Hus ainda alegou inocência e se recusou a renunciar a seus "erros". Ele fez a seguinte declaração ao concilio: "Eu não renunciaria à verdade nem mesmo por uma capela repleta de ouro". Em 6 de julho de 1415, a igreja condenou, formalmente, Hus e o entregou às autoridades seculares para a punição imediata. No caminho para o lugar de execução, Hus passou diante de uma igreja na qual uma fogueira queimava seus livros. Rindo, disse aos observadores que não acreditassem nas mentiras que estavam circulando sobre ele. Ao chegar ao lugar onde seria queimado em uma fogueira, o oficial do império pediu a Hus que se retratasse de suas idéias. "Deus é minha testemunha", disse o sacerdote, "de que as evidências contra mim são falsas. Eu nunca pensei nem tampouco preguei nada que não tivesse a intenção de, se possível, livrar os homens de seus pecados. Hoje morrerei satisfeito". Depois de sua morte, as cinzas de João Hus foram jogadas no rio. Em vez de colocar seu prestígio em risco, a corajosa morte de Hus só serviu para aumentar seu reconhecimento. Inflamados pela combinação de fervor religioso e nacionalismo, seus seguidores se rebelaram contra a Igreja Católica e seu império controlado pelos germânicos. Com essa rebelião, eles efetivamente se livraram de ambos. A despeito de todos os esforços dos papas de erradicar esse movimento, ele sobreviveu como igreja independente, a "Unitas Fratrum", ou "Unidade dos Irmãos".

O Concilio de Niceia

O concilio de Niceia.


Embora Tertuliano tivesse outorgado à igreja a idéia de que Deus é uma única substância e três pessoas, de maneira alguma isso serviu para que o mundo tivesse compreensão adequada da Trindade. O fato é que essa doutrina confundia até os maiores teólogos. Logo no início do século IV, Ario, pastor de Alexandria, no Egito, afirmava ser cristão, porém, também aceitava a teologia grega, que ensinava que Deus é um só e não pode ser conhecido. De acordo com esse pensamento, Deus é tão radicalmente singular que não pode partilhar sua substância com qualquer outra coisa: somente Deus pode ser Deus. Na obra intitulada Thalia, Ario proclamou que Jesus era divino, mas não era Deus. De acordo com Ario, somente Deus, o Pai, poderia ser imortal, de modo que o Filho era, necessariamente, um ser criado. Ele era como o Pai, mas não era verdadeiramente Deus.
Muitos ex-pagãos se sentiam confortáveis com a opinião de Ario, pois, assim, podiam preservar a idéia familiar do Deus que não podia ser conhecido e podiam ver Jesus como um tipo de super-herói divino, não muito diferente dos heróis humanos-divinos da mitologia grega. Por ser um eloqüente pregador, Ario sabia extrair o máximo de sua capacidade de persuação e até mesmo chegou a colocar algumas de suas idéias em canções populares, que o povo costumava cantar. "Por que alguém faria tanto estardalhaço com relação às idéias de Ario?", muitas pessoas ponderavam. Porém, Alexandre, bispo de Ario, entendia que para que Jesus pudesse salvar a humanidade pecaminosa, ele precisava ser verdadeiramente Deus. Alexandre conseguiu que Ario fosse condenado por um sínodo, mas esse pastor, muito popular, tinha muitos adeptos. Logo surgiram vários distúrbios em Alexandria devido a essa melindrosa disputa teológica, e outros clérigos começaram a se posicionar em favor de Ario. Em função desses distúrbios, o imperador Constantino não podia se dar ao luxo de ver o episódio simplesmente como uma "questão religiosa". Essa "questão religiosa" ameaçava a segurança de seu império. Assim, para lidar com o problema, Constantino convocou um concilio que abrangia todo o império, a ser realizado na cidade de Nicéia, na Ásia Menor. Vestido com roupas cheias de pedras incrustadas e multicoloridas, Constantino abriu o concilio. Ele disse aos mais de trezentos bispos que compareceram àquela reunião que deveriam resolver o impasse. A divisão da igreja, disse, era pior do que uma guerra, porque esse assunto envolvia a alma eterna. O imperador deixou que os bispos debatessem. Convocado diante dos bispos, Ario proclamou abertamente que o Filho de Deus era um ser criado e, por ser diferente do Pai, passível de mudança. A assembléia denunciou e condenou a afirmação de Ario, mas eles precisavam ir além disso. Era necessário elaborar um credo que proclamasse sua própria visão. Assim, formularam algumas afirmações sobre Deus Pai e Deus Filho. Nessas declarações, O Concilio de Nicéia
descreviam o Filho como "Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstanciai com o Pai". A palavra "consubstancial" era muito importante. A palavra grega usada pelos conciliares foi homoousios. Homo quer dizer "igual"; ousios significa "substância". O partido de Ario queria acrescentar uma letra a mais àquela palavra: homoiousios, cujo significado passaria a ser "de substância similar". Com exceção de dois bispos, todos os outros assinaram a declaração de fé. Esses dois, com Ario, foram expulsos. Constantino parecia satisfeito com o resultado de sua obra, mas isso não durou muito tempo. Embora Ário tivesse ficado temporariamente fora do cenário, sua teologia permaneceria por décadas. Um diácono de Alexandria chamado Atanásio tornou-se um dos maiores opositores do arianismo. Em 328, Atanásio tornou-se bispo de Alexandria e continuou a lutar contra aquela facção. No entanto, a guerra continuou na igreja do Oriente até que outro concilio, realizado em Constantinopla, no ano 381, reafirmou o Concilio de Nicéia. Ainda assim, traços dos pensamentos de Ario permaneceram na igreja. O Concilio de Nicéia foi convocado tanto para estabelecer uma questão teológica quanto para servir de precedente para questões da igreja e do Estado. A sabedoria coletiva dos bispos foi consultada nos anos que se seguiram, quando questões espinhosas surgiram na igreja. Constantino deu início à prática de unir o império e a igreja no processo decisorio. Muitas conseqüências perniciosas seriam colhidas nos séculos futuros dessa união.