"Como se explica a expressão 'onde
estiver o cadáver, aí se ajuntarão os abutres', de Mateus 24.28?"
Acreditamos que o texto em epígrafe
• está correlacionado com os últimos
acontecimentos escatológicos. Trata-se, aqui, de fatos que sobrevirão, no
tempo do fim, a Israel e aos gentios. Mas é preciso salientar, a título de
estudo, que este versículo, embora muito breve, tem sido motivo de inúmeras
interpretações, algumas das quais inteiramente equívocas. Observemos as
opiniões de algumas das correntes sobre o texto:
1.
Cristo seria o alimento (a carcaça), e os crentes seriam os abutres.
Assim pensaram Teofilacto, Calvino, Colávio, e Jerônimo, que encontraram na
palavra "cadáver" até mesmo uma referência à morte de Cristo.
Crisóstomo também defendia essa interpretação, chamando os participantes da
assembléia de santos de águias. Alguns intérpretes modernos, como Wordsworth,
têm-se lançado na defesa dessa interpretação. Porém a simples leitura do
contexto basta para mostrar a qualquer um que no versículo não há intenção de
transmitir tal idéia, porquanto o tema do texto é julgamento.
2. Tão inocente quanto essa é a interpretação
que diz que o cadáver significa aqueles que morrerem para si mesmos (a
crucificação espiritual) e que as águias são os dons do Espírito Santo. Isso
está completamente fora do sentido do texto.
3. Jerusalém e os judeus seriam os cadáveres
que teriam atraído as águias romanas (assim pensam Lightfood, Wolf, e De
Wette).
4.
O cadáver representaria os indivíduos espiritualmente mortos, e as
águias seriam os anjos vingadores enviados por Cristo, visto que, a expressão
"cadáver" se deriva do verbo grego que significa "cair", e
fala de um "corpo caído". O vocábulo português "cadáver",
vem do vocábulo latino "cado" cair.
5.
Que o versículo em apreço está ligado à batalha do Armagedom, por
ocasião da revelação de Jesus em glória: Ap 19.11,12.
A par de todas essas correntes que foram
analisadas, existem, ainda, algumas considerações a ser ponderadas sobre o
texto em pauta, com vistas a um maior esclarecimento.
No que tange à expressão
"abutre" no versículo em apreço, algumas traduções dizem águias -
expressão grega "aethos" que significa águia. Na realidade, nesse
caso as "águias" são abutres, que os antigos aceitavam como uma raça
de águias: Jó 39.30; Os 8.1. Trata-se do abutre que ultrapassava a águia em
tamanho e poder.
A águia representa símbolos diversos: de
nação, de força, de poderio, etc. Segundo alguns, o seu masculino (aguilão)
quer dizer vento do norte. Esse mesmo vocábulo quer dizer trapaceiro, tratante,
covarde. Esta ave é considerada pelos zoologistas como a rainha das aves, em
razão de sua força e destreza, pelo seu domínio nas maiores alturas. Somente
se lhe iguala o condor dos Andes. A águia pode ver a presa até 3 km de
distância, como atestam os cientistas. A Bíblia se refere a esta ave (Dt
28.49,50; Jó 39.30), dando-lhe uma consideração especial, como é o caso do
versículo em apreço. A águia tem todas as características das aves que podem
levantar vôo sem bater asas. É símbolo de auto-suficiência.
Alguns estudiosos crêem que o versículo
pode referir-se a uma poderosa nação (Dt 28.49,50) que virá contra o povo de
Jacó: "O Senhor levantará contra ti [Israel], uma nação de longe, da
extremidade da terra, que voa como a águia, nação cuja língua não entenderás,
nação feroz de rosto, nem se apiedará do moço". Já em Ezequiel 38, se nos
diz que ela (uma poderosa nação) virá com os seus aliados, "e muitos povos
virão contigo", v.6.
Outros teólogos concluem que o versículo
em pauta tem duas interpretações: a literal e a simbólica. Diz literalmente,
crendo na mortalidade que haverá nas terras da Palestina, segundo Ezequiel 38.
Diz simbolicamente, referindo-se às nações que virão para invadir a Palestina,
com o fim de varrê-la da face da terra.
Outra forte corrente diz que na antigüidade
os países e impérios consideravam-se fortes e usavam esta ave como insígnia;
hoje muitos países ainda a usam como símbolo e sinal de poderio. Os Impérios
Romano, Russo, Austríaco, e da França, adotaram a águia como símbolo heráldico.
Damos a seguir alguns exemplos:
1. Napoleão Bonaparte, que usou o símbolo
da águia, disse ao referir-se a Israel: "quem ficar com essa terra
governará o mundo".
2. Império Romano Redivivo, que também
adotou a águia como símbolo, marchará contra Israel, a fim de destruí-lo.
3.
A U.R.S.S., que tem como insígnia esta ave, virá do Norte com o objetivo
de tomar os despojos e de arrebatar a presa (Ez 30.1-12) -sabe-se que de longe
a águia avista sua presa - Assim a única terra a ser contemplada é a Palestina,
não só pela poderosíssima nação, mas também pelos outros povos que estão
ligados a ela: "Seus filhos, chupam o sangue e onde há mortos, aí ela
está", Jó 39.30; Ez 38.6.
De todas essas correntes e declarações
estudadas, o mais provável e o que mais se coaduna com o contexto bíblico, é
que este texto se refere a um provérbio secular, usado por Jesus, dando-lhe
uma nova aplicação. Esse provérbio significa algo como "onde houver
motivos para julgamento, aí haverá julgamento". A declaração, portanto,
seria uma afirmação geral, acerca da inevitabilidade do julgamento que se tornava
necessário e imperioso. No caso da volta de Cristo, Ele (Jesus) atacará os
poderes do mal neste mundo, tanto individuais como das nações. Ele destruirá o
Anticristo com o resplendor de sua vinda. É uma lei geral que o julgamento cai
onde deve, tal como os abutres se reúnem onde jazem os cadáveres.
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