segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Por uma EBD bem Sucedida

Pastor Antônio Gilberto - Por uma ED bem-sucedida

Aos 70 anos, pastor Antônio Gilberto é considerado um patrimônio da AD no Brasil. Em outubro de 1997, ele recebeu da Abec (Associação Brasileira de Editores Cristãos) o prêmio Personalidade Literária. Formado em Psicologia, Teologia, Pedagogia e Letras, autor de 7 livros, entre eles o Manual de Escola Dominical; editor da Bíblia de Estudo Pentecostal em português, sucesso em todo o Brasil; fundador e primeiro coordenador do CAPED, de 1974 a 1989, e com um ministério que vai além das fronteiras nacionais, ele é indiscutivelmente uma das maiores personalidades da literatura evangélica nacional. Recentemente, atendendo a um convite da Convenção Geral da AD nos Estados Unidos, foi empossado membro da junta diretora da University Global, em Sprigfield, Missouri. Nesta entrevista, pastor Antônio Gilberto analisa a ED de hoje e expõe os desafios que ela enfrentará no próximo milênio.

Como se deu o convite para ser membro da diretoria da University Global?

Em setembro, recebi um ofício da Mesa da Convenção Geral da AD nos Estados Unidos informando que fora escolhido para ser membro da junta diretora da University Global, em Springfield, Missouri. Fiquei surpreso, porque eu não desejara aquilo. Depois, Dr. Ron A. Iwasko, presidente da instituição, telefonou-me dizendo que as passagens já estavam seguindo e que me receberia no aeroporto de Dallas para ir comigo à reunião de posse, marcada para dentro de 15 dias. Meu cargo é estatutário, com todos os direitos de um norte-americano. Estarei trabalhando principalmente na fixação de currículos para todos os níveis e na admissão, seleção e reciclagem de professores. Permaneço no Brasil, mas as minhas idas para os Estados Unidos serão de 10 a 12 dias e outras, de até um mês e meio.

Como aconteceu o seu despertamento para o trabalho na ED?

Em 1953, fui aos Estados Unidos. O navio onde eu estava parara para fazer grandes reparos. Fiquei ali por 5 meses. Ali, vi pela primeira vez um funcionamento avançado de ED. É claro que eu já conhecia a ED do Brasil, mas pela primeira vez via classes para todas as faixas etárias. Depois, fui à Europa e conheci a ED na Grã-Bretanha e Europa Continental. Era a mão de Deus. Essas experiências me deram subsídios e uma visão global para que eu pudesse escrever livros como o Manual da Escola Dominical, que é o manual adotado pela AD no Brasil. Muitas igrejas o adotam como manual padrão para fundar, desenvolver e promover EDs.

Gostaria que o senhor fizesse uma radiografia da ED hoje.

Se a ED fosse mais promovida, teríamos uma igreja quatro vezes maior. Muitos se esquecem que a AD está crescendo em quantidade, mas nem tanto em qualidade. Há uma tendência muito forte de crescer em quantidade sem pesar a qualidade na balança divina, a Bíblia. A AD deve investir mais em oração, divulgação, recursos, preparo de professores e principalmente na área infantil, adolescente e pré-adolescente, produzindo material apropriado. É preciso também investir em instalações físicas, porque milhares de igrejas reúnem as classes no salão do templo. Com o barulho, o professor não consegue se concentrar. Isso reduz o crescimento. Se a ED, que cuida do discipulado e do ensino, fosse mais dinamizada, teríamos uma igreja maior em quantidade e qualidade.

O que o senhor espera da ED no próximo milênio?

A CPAD investe o máximo na ED, mas ela não pode ir muito longe se não tiver um maior apoio das lideranças nacionais: a mesa diretora da CGADB, as diretorias das convenções estaduais e regionais, os pastores presidentes de igrejas e o Conselho Administrativo da CPAD. Elas têm que reconhecer que a ED é obra do Senhor e colocar o coração nela. Que Deus, pela sua misericórdia, faça com que se angustiem e decidam investir mais na educação religiosa para salvar o lar, a infância e os adolescentes, que vivem uma situação difícil moral e socialmente devido às transformações que o mundo enfrenta. Você há de se lembrar que é profecia. Na imagem profética de Daniel, a cabeça da imagem era de ouro, mas os pés, de barro. Ninguém pode mudar isso. A cabeça, o passado, era de ouro, e nunca mais teremos esses tempos, porque a Bíblia diz que os pés eram de barro misturado com ferro. A igreja é que tem que se precaver, se mobilizar e buscar um avivamento, mas ninguém pense que vamos ter um mundo maravilhoso. O mundo vai de mal a pior. Espiritualmente, há a esperança de um avivamento celestial, quando multidões serão salvas e renovadas. E a ED é peça chave nesse meio, porque o pregador, o evangelista, ganha almas para o Reino de Deus, mas quem vai educar e discipular é a ED ou outro órgão da igreja que faça a mesma coisa mesmo não tendo esse nome.
Fale sobre a primeira lição da ED para o ano 2000, escrita pelo senhor.
O assunto escolhido pela CPAD é os avivamentos da Bíblia. A revista circulará em janeiro e abordará 13 casos de avivamento na Bíblia.

Há alguns dias, o senhor criticou o mau uso da ED. O que o senhor quis dizer?

Temos agências de ensino religioso não populares, como faculdades e institutos bíblicos. A ED é a própria igreja estudando a Palavra de Deus. Ela aceita desde o que está no berço até o ancião mais encanecido. O que quero dizer com o mau uso dela? Pela graça de Deus, eu viajo pelo Brasil inteiro, e em muitas igrejas onde passo a ED é só uma reunião domingueira. Tem o nome de ED, mas não há divisão de classes nem ensino. Às vezes, nem a lição é usada ou citada. Assim, o alimento espiritual é só para um grupo. Não se dá a uma criança recém-nascida o alimento dado a um adulto. O alimento pode ser nutritivo, mas tem que ser apropriado à criança. Talvez por causa da incipiência dos dirigentes, numa reunião onde se deveria repartir o pão conforme o estômago de cada um, vemos crianças dormindo sentadas em bancos de adultos. Por estarem na igreja, são abençoadas, mas não entendem nada da mensagem, pois não é transmitida ao nível do conhecimento delas. É isso que chamo de mau uso.

As igrejas têm investido na estrutura física e educacional da ED?

Não. Muitos líderes dizem que não têm recursos. Da mesma forma que se procura ter recursos para construir o templo e promover a obra missionária, deve-se investir em instalações físicas para ED. É falta de visão não investir em salas de ED que inclusive poderão servir durante a semana para cursos que a igreja possa criar. O Governo não investe em cidadãos que terão uma vida tão curta? Será que não vale à pena investir em vidas que durarão à eternidade? E que atração exercerá a ED para nossos jovens, que na escola secular encontram tudo atualizado, enfeitado, bancos apropriados, computadores, e, quando chegam na ED, parecem que regrediram cem anos? Não é só “Vai orar e ser cheio do Espírito”. A igreja pode ser cheia do Espírito e falhar nesse ponto. Não devemos esquecer o lado humano. No capítulo oito de Jeremias, Deus disse ao profeta que pegasse um tijolo e escrevesse nele o mapa de Jerusalém. Deus não poderia simplesmente falar ao coração? Deus, com todo o seu poder, disse para lançar mão de um recurso secular para falar ao povo.

O que o senhor acha dos atuais professores de ED?

A situação melhorou muito desde que se levou adiante o CAPED, mas a equipe é uma só e o país é imenso. Deus tem feito a AD progredir, logo precisamos de uma multiplicação, de professores mais preparados, porque o povo se acultura e a igreja não é mais a mesma. O povo não aceita tudo que se dá, ele já sabe filtrar. Temos uma igreja madura, com quase 100 anos, mas muito dos nossos líderes se esquecem disso. Necessitamos também de professores espirituais, porque um professor não espiritual não vai longe. Quem faz prosperar é Deus. Paulo disse: “Eu plantei, Apolo regou, mas Deus deu o crescimento”.

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